Crónica do nada sobre nada…

Por vezes, na vida, não temos nada para dizer. Mas, talvez por essa mesma razão, existe uma certa vontade interior de dizer algo mesmo que, lá está, não se tenha exactamente nada para dizer, para acrescentar ao mundo, à humanidade em geral. Todos nós precisamos de silêncio, de esvaziar a mente e, pura e simplesmente, não pensar em nada, ou, talvez, pensar sobre o nada — sobre o que o nada pode significar para nós próprios. Por vezes, acordo de manhã e penso:

“Caramba, então não é que não tenho mesmo nada para dizer…”

E, então, decido parar um pouco para aprofundar esse pensamento e rapidamente chego à conclusão que, por vezes, não se ter nada para dizer pode até ser uma espécie de demonstração de inteligência interior. Por exemplo, quando não se tem nada para dizer, mais vale não dizer nada, porque, por vezes, o nada também pode ser sinónimo de burrice. Para comprovar esta afirmação, Saramago disse certa vez:

“Se não tens nada para dizer, mais vale ficares calado, porque tudo o que disseres acabará, eventualmente, por sair errado…”

Ou então, usando as sábias palavras de outro génio da literatura, o excelentíssimo Charles Bukowski:

“Na vida, para se dizer grandes quantidades de merda, mais vale estar-se calado e consumir a própria merda…”

E, para comprovar que isto de se dizer nada quando não se tem nada para dizer pode ser uma arte, eis que Luís Sepúlveda, certa vez, arrematou:

“Fica calado quando não tens nada dizer ao mundo, pois isso é a maior demonstração de amor que existe…”

Na verdade, nenhum destes génios da literatura proferiu ou escreveu tais palavras. Mas esta é a arte de inventar quando não se tem nada para dizer — e como todos eles já faleceram, eis que não existe a probabilidade de ser acusado por difamação.

Podia continuar a difamar mais umas quantas personalidades que marcaram a humanidade, mas a verdade é que, honestamente, eu não tenho mesmo nada para dizer…