Electric Love

Não há duas pessoas iguais.

Ocupo a boca de ar. O perfume enche a sala. Completa o espaço de um tempo cão. Aquieto a ansiedade. O sofrimento da impaciência. Corro o tempo. E converso com o órgão musculoso. Ou contigo. Que é a mesma coisa. O silêncio é absoluto. Um sossego diferente. Uma omissão sem explicação. É uma realidade. Porque nem todas as interrupções são infernais. Os calares compreendidos.

 O dia que não anoitece. A chuva que tomba ao lado. As mãos que tremem. As mãos de um homem sempre oscilam quando falam de afecto. Dos homens bons, obviamente. Os dedos e os teus. Entrelaçados que ferem. E o afeto obedece. Porque existe o aclamado respeito. E a obediência é fundamental. Um dos grandes pilares do carinho íntimo.

Comunicamos com os olhos. A forma mais evidente de sentirmos todos os sentires. A verdade quando me deito a teu lado. O cheiro. O toque. A magia. O abraço. A pulsação. Todos tendemos para algo. Para o grande amor. A meta evidente da evolução. O amor nasce da dor sentida. Desponta da procura. Da elevação. O amor é para os que têm ar para soprar. O amor é para os que querem construir. Tornar um só.

Seguimos a lei popular. Os opostos atraem-se. Apesar das divergências. Apesar das diferentes personalidades. Aquilo que nos constitui. Somos a relação que erguemos ao longo do tempo. Discutimos. Como qualquer casal saudável. O choque particular que faz com que a nossa relação seja imperdível. Tudo o que é diferente só pode ser excitante.

Por vezes torna-se complicado aceitar as consequências do parceiro. Existe o orgulho. Mas há sempre variadas formas de reverter a situação. A chata. Como manda a tradição; construímos autênticos diálogos. Desvendamos reais apelos à mútua compreensão. O nosso essencial reside à vista do que é aceitável. O entendimento mora dentro de nós. Não nos agarramos apenas aos ideais individuais. Ambos já degustámos o sabor do erro. É imperativo partilhar crenças. É imperativo partilhar momentos. Quando um casal se ama é imperativo partilharem a vida. Uma vida. Sem privações, claramente.

Tenho tanto interesse em ti! Apesar dos panoramas diferentes. A pintura de jardim para iludir a vista. Tenho tanto interesse em ti! Repito. Como o vinho verde. Sustento isto de forma não aconselhada nem forçada. Bravia. Porque antes de sucedermos como um casal vistoso, primeiramente consentimos a amizade. E a amizade é um orgasmo que se tem dentro de um abraço. O sentimento recíproco. E não é apenas uma questão de cordialidade. Que é para não cansar. A imponente conversa das coisas necessárias à existência.

Gosto de ler a tua voz. Admiro quando manifestas os teus interesses. Particularmente. Fascina-me o ambiente agradável que nos enlaça segundo após segundo. O de agora. O de sempre. E desenvolve boas venturas. Entre outras coisas.

No sentimento de atração é considerado importante haver cedências de ambas as partes. Cedências que dependem única e exclusivamente de uma direção. De um sentido. Há dias em que queres exercer tudo à tua maneira. Não recorro à reclamação. Praticas um complemento aos nossos dessentimentos. E assim rematamos o resto.

Recebo-te com agrado. Tens o conhecimento necessário. Acima de tudo, sabes disso. Mas, nem sempre o amor requer a confluência de duas pessoas. Por dias sinto-me carecente. Como se o teu acolhimento fosse um escape ao meu imperdoável fracasso. Ao outro amor armazenado em mim.

Quando há falta do que é crucial a entrega encarrega-se da imensidão. Não cabe no peito. Não cabe dentro dos segredos. Nega todas as grades a penar. É ao teu ser grandioso que entrego toda a minha valorosa vida. Não fosses tu a primeira a saber de tudo.

Os meus amigos saltaram para segundo plano. Caíram de um precipício. Uma grande desgraça. Uma maldição. Assim como o trabalho e a família. O ânimo querido. O peito do coração. Com o tempo esqueci-me que também sou merecedor da tua consagração. Com o passar da idade, acabaste por desmoronar e sancionar todas as gotas existentes no teu rosto. As nossas.

Aprendeste a inabilitar-me. Compreendeste a desvalorização. Conheci a lógica deturpada do amor. Convívio diário de quem dá o que tem. Dei-te um saco a transbordar de sonhos. E recebi uma janela aberta para o deserto. Um qualquer da Europa. O Tabernas. O Areal de Oleshky. Ou o Bardenas Reales.

Prometo abandonar-te assim que possível. Não como alguns brutos fazem aos mortos. De atalho para a repulsa. A caminho da desconsideração. Não consigo ser feliz com o que acolho. Tenho a idiota noção que prendo as tuas energias. Tenho a belíssima noção que reivindico demasiada atenção da tua parte. Quero ser exímio em tudo. Em suma, o que realmente me incomoda é a renúncia. A baixa autoestima acompanha-me. Como um balançar pontual. Que só exerce quando quer.

Antes de tudo devemos relegar o nosso humilde comportamento. Saber dar um tom vigoroso ao que realmente nos faz realizados nos mais diversos campos. Devemos sempre estimular novas amizades. Estamos obrigados a desenvolver novas experiências. Sejam elas quais forem. Não devemos, em tempo algum, respirar em função de um desenvolvimento sexual. Ou de algo mais carismático. A vida parece sempre ficar mais leve quando conseguimos o apoio de alguém. O amor, indubitavelmente, ajuda-nos a ser mais livres. Mais dispersos. Melhora de forma significativa a nossa qualidade existencial. Deixa de existir a contramão.

Mulher do mundo. Mulher emotiva. Procuro em ti um relacionamento firme e duradouro. Algo que nos proporcione segurança, solidez, mutualidade, cumplicidade. Entre outras palavras engraçadas. O encanto traduz-se numa força que determina um tempo arrebatador. Obriga-nos a escolher alguém. A perfeita que conta mais do que nós próprios. Faz parte da Natureza. Desafiar e erguer coisas novas.

A pessoa certa não é aquela que nos rouba um beijo no primeiro encontro. Ou que tenta desempenhar a solidão com um estonteante prazer efémero. Apenas converte na dependência. Como uma droga pesada.

Danificas-me. Maltratas-me. Apreendes a destreza de um vulcão em erupção. Cansaste-te dos meus desmandos. Perdeste o interesse. O brilho acabou. Aceito a tua falta de apreço. Já nada se constrói. Falta-me a firmeza. Falta-me a estúpida clareza dos objetivos que quero viver. O relacionamento é uma mão dupla. A reciprocidade tem de ser verdadeira. Caso não seja, é importante questionar a marginalização da carência.

Esposa. Companheira. Estamos juntos há tempo suficiente. Maluca. Alucinada. No amor os anos não significam absolutamente nada. Mas não basta ir à procura. É preciso encontrar. Dobrámos a dor. Acostumámo-nos um ao outro. Entregámo-nos ao comodismo. E inventámos a mais genuína descoberta. O destapar do amor findado.

Conversas sozinha. Ou com outros homens. Amigos que somos. Merda de amigos que somos. Somente. Consideras-me um bom apreciador de palavreados da treta. Que negoceia com a roupa. Que cuida do chão partido. Que lava a casa de banho. Que enxuga todas as lágrimas de mênstruo. E os amigos não fazem sexo. Os a preto e branco. O que não deixa de ser normal quando dois seres terminam a afetividade. Não consigo ficar indiferente. A inquietação obriga-me a falar do passado. Ou ao passado. Assim como falo de ti. Do que eras. O presente já não merece qualquer tipo de atenção. E tu também não. Fazes questão de encher o peito. A atualidade é um tempo perdido.

Vislumbras demasiado outras barbas. Outros bigodes. Outras calças. E eu não sei se apenas olhas ou se tens vontade de me trocar por outro gajo qualquer. Um desses.

Quero sempre acreditar que as coisas são passageiras. Ou normais. Por mais que os momentos se intensifiquem. Achar-te não aconteceu da noite para o dia. Desvendou-se um processo trabalhoso. O mesmo grau na hora da despedida.

Amo-te imensamente. Quero-te pela exaustão que provocas em mim. Contudo, deixo-te partir com a dignidade que mereces. Não te engano em nome das aparências sociais. Deixo-te voar porque amo tudo em ti. E amar também é deixar soltar o coração. Nem toda a distância é sofrimento. Tudo teve o tempo necessário. A felicidade. O tempo suficiente para ser inesquecível.

O amor próprio é uma luta árdua. Diária. Que requer bastantes horas perdidas. Vivo o resto da minha vida. Por mim. As ambições. Os desejos. Os arrependimentos. Preciso de um espelho. Necessito de algo refletido. Um novo eu. Talvez. Desmarco as horas. Encerro o computador. Ignoro o telemóvel. Aproveito para viajar. Sozinho. Estou na posse de uns olhos cativantes. Afirmo. Não calo a voz com que chamam os mais diversos animais. A minha. Teimoso. Acima de mim. Sei que vai demorar alguns segundos. Danço na chuva perpetuada. Acordo o mundo. De frente à vida. Não sou nenhum profissional do respirar. Admito. És algo trespassado. Agora sou apenas um pedaço de dois pés amadores.

A beleza física não é eterna. O que verdadeiramente importa é o caráter. O que realmente importa é a gentileza. O que realmente importa é a generosidade. Particularidades que mumificam a ininterrupção de instantes.

A melhor forma de terminar uma relação é com um beijo de despedida.

Não há duas pessoas iguais.