Enrascados até querermos!

«Porque é que não emigras e apostas num futuro profissional no estrangeiro? És tão novinha, já licenciada, tens a vida pela frente e mereces mais e melhor do que aquilo que este país tem para te dar. Vai para Angola ou para a Alemanha, França ou Suíça, Itália ou Estados Unidos. Há tanta gente que faz isso.»

Estas palavras tornam-se, cada vez, mais familiares para mim, é este o discurso que inunda cafés, grupos de amigos e conversas de rua; é este o pensamento de cada um de nós, jovens graduados que não temos o nosso espaço no sistema, que estudámos anos a fio, investindo milhares de euros em aulas, lições, cursos e livros para, no fim, sermos esmagados e desfeitos por um país pequeno demais para os nossos sonhos, para as nossas ambições, para a nossa vocação e para a imensidão que projetámos no nosso futuro.

Amedronta-me saber que a minha geração é a definição do dia de amanhã, não vejo vigor nem pujança, vontade de lutar; duas décadas de existência e já estamos cansados, escondidos em taxas de desemprego elevadas e camuflados em números, percentagens; discutidos em assembleias e aconselhados a viajar, a fugir, a sair daqui porque não há condições para nós.

Os que vão levam quase tudo, não sabem se voltam, muito poucos regressam e transportam neles a saudade e a mágoa. A frustração de pertencer a uma pátria que os chuta para canto, que dispensa os seus bens mais valiosos: jovens inteligentes, perspicazes, talentosos e energéticos o suficiente para se erguerem e levantarem Portugal, renascendo-o das cinzas e reconstruindo ruínas. Somos, naturalmente, voltados para a tecnologia, para a informática, para o progresso e para o desenvolvimento; o que é o futuro senão isso mesmo? A minha geração é constituída de futuro! Com uma capacidade espantosa de acompanhar a alucinante mudança, a vertiginosa evolução – desde que nascemos, em 80s/90s, que somos filhos da frenética e vertiginosa evolução que só nós conseguimos acompanhar e entranhar.

São realmente triste os sorrisos irónicos e risos sarcásticos que surgem ao sermos apelidados de ‘geração à rasca’. Sim, estamos à rasca, à rasca para arranjar emprego, à rasca para nos sustentarmos, à rasca para podermos começar a nossa vida com um carro, uma casa, uma família. E amanhã vamos continuar enrascados, sem sermos rascas! Temos pais que não dormem preocupados com aquilo que nos espera, temos avós que não envelhecem sossegados com medo de partir e nos deixar aqui, sozinhos, abandonados à nossa própria sorte e incumbidos de suportar as consequências do passado, os erros de pessoas egoístas, de uma geração anterior à nossa que gastou, usou e abusou do que tinha e do que nunca teve.

Investiram em nós, proporcionaram-nos tudo e tornaram-nos na geração mais habilitada e qualificada de que há memória; a nossa infância foi desafogada, mimada e recheada e, agora, que queremos ser independentes e orgulhar as pessoas que nos deram a vida, cortam-nos as asas, impedem-nos de voar, e inflingem-nos algumas caixas de supermercado, postos de atendimento ao público, lojas de roupa ou armazéns de caixas; nós temos medo mas continuamos a achar que podemos e conseguimos tudo, é típico da idade mas sei que não será assim para sempre, que vamos crescer, conformar-nos com o pouco que temos e deixar de querer aquilo que merecemos. Enchemos a caixa de correio eletrónico com currículos enviados, com esperanças que rapidamente desaparecem, muitas vezes nem obtemos resposta e somos rapidamente removidos de mais uma hipótese, é mais uma porta que nos fecham e a luz ao fundo do túnel é cada vez mais fraca e ténue. Noite após noite adormecemos a pensar que dias melhores e mais prósperos virão mas cada vez que o Sol nasce as notícias repetem-se e nós continuamos sem nos sentir realizados.

Somos, talvez, a geração que mais percebe as cores da bandeira que transportamos no peito, onde a esperança é aquilo que menos temos; e enquanto este povo conservador, divido entre uma história batalhadora, como se se tratasse de um museu que vive do passado, e a atual miséria sem comida em cima da mesa, não souber em quem apostar e em quem arriscar vai continuar a ser o povo que sustenta a riqueza que políticos têm desfrutado, a pagar os carros topo de gama de todos os chulos com partido, a apoiar esta democracia deficiente que só apoia o mais rico, a compactuar com o capitalismo que explora o trabalhador.

«Não. Não quero emigrar. Se todos formos embora o que resta de Portugal? Seremos o destino turístico da europa e alguns velhotes para contar histórias de filhos, netos e bisnetos que foram à procura de um futuro promissor? Não, isto preciso de nós, dos mais jovens que vamos mudar tudo isto e encarrilar o nosso país. Só precisamos de querer.»
Não sei como mantenho esta resposta mas querer é poder. Está na hora do poder ser nosso!