Era uma vez no cinema: The Visit

       Outrora, David Fincher realizou o “The Curious Case of Benjamin Button”, pois bem, o estranho caso da carreira de M.Night Shyamalan também daria um óptimo filme, num tópico que deveria ser alvo de estudo pelos peritos. Com somente vinte e oito anos, o nome de Shyamalan corria as bocas do mundo depois do seu trabalho em “The Sixth Sense”. A partir daí, o realizador indiano entregou-nos, consecutivamente, três filmes de qualidade indescútivel: “Unbreakable”, “Signs” e “The Village”. Esta rápida ascenção de M.Night Shyamalan deu-lhe o merecido estatuto de um dos melhores realizadores da sua geração, mas no seu projecto seguinte (“Lady in the Water”) iria iniciar-se uma mudança radical na sua carreira. Depois de “Lady in the Water”, o realizador somou projectos cada vez mais vazios e insignificantes, dos quais se destacam negativamente “The Last Airbender” e “After Earth”. Este mais recente trabalho de Shyamalan trata-se de um projecto mais pequeno (um orçamento de apenas cinco milhões de dólares), o que não deixa de ser curioso visto que com menos recursos do que nos seus últimos trabalhos, o realizador indiano consegue em  “The Visit” o seu melhor trabalho dos últimos dez anos.

       A história centra-se em dois irmãos que vão passar férias à casa dos avós maternos, familiares que nunca conheceram. Durante a estadia, acontecimentos estranhos ligados aos avós começam a despertar a curiosidade e o medo dos jovens.

        Utilizando um género “found footage”, algo cada vez mais usual em filmes de terror depois do sucesso de “The Blair Witch Project”, vejamos os exemplos mais recentes de “Rec” e “Paranormal Activity”, Shyalaman consegue criar um ambiente de suspense e terror bastante autêntico. Sem ser um grande fã do género de terror, embora este na minha opinião seja mais um suspense do que um filme de terror (ao contrário do que foi vendido), “The Visit” tem o mérito de criar um clima de suspense eficaz e, aqui e ali, reservar alguns sustos ao espectador. O arco dramático tem as suas falhas, tal como existem algumas cenas algo deslocadas do centro da narrativa, mas a trama consegue ainda assim fluir e manter a vivacidade até ao seu fím, onde Shyalaman nos brinda com as suas já habituais surpresas finais. Não é que “The Visit” seja uma experiência espetacular e única, longe disso, mas consegue atingir os seus objectivos de forma eficaz e num género em que os filmes de qualidade são cada vez mais raros, consegue de certa forma evidenciar-se.

        Os quatro actores (Olivia DeJongue, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan e Peter McRobbie) que compõem o arco principal da trama cumprem eficientemente os seus papéis, onde se pode colocar o trabalho de Deanna Dunagan num degrau acima dos restantes.

        Não é o regresso do M. Night Shyalaman aos tempos de glória do passado, mas é um retorno positivo do indiano ao estilo que o tornou famoso. “The Visit” poderá muito bem ser o filme que inicie uma nova etapa na carreira do realizador, que coloque Shyalaman de novo nos trilhos do sucesso, mas isso, só o futuro nos dirá!