Era uma vez no cinema: The Witch

       De todos os géneros existentes no cinema, confesso que é o de terror que menos aprecio. São poucos os filmes de terror que me recordo de ter realmente gostado, muito por causa do caminho que o género seguiu na última década. No fundo, os filmes de terror da actualidade dividem-se em dois tipos: Aqueles que se focam em questões relacionadas com espíritos e poderes sobrenaturais, ou então, os que são em torno de mortos-vivos. O problema é que normalmente são filmes com histórias bastante genéricas, com uso de técnicas de filmagem muito semelhantes e essencialmente, obras pouco inovadoras. De tempo em tempo, lá aparece um filme mais arrojado e sofisticado, uma espécie de raio de sol na escuridão em que o género se encontra. “The Witch” é a grande luz dos filmes de terror nos últimos anos!

       A trama situa-se na Nova Inglaterra, em 1630. É nesse ambiente de época que somos apresentados a um casal, William e Katherine, e os seus cinco filhos. Uma família cristã que muda de casa após um “conflito” entre William e a comunidade onde residiam. Com problemas ao nível das colheitas, a situação destes detiora-se ainda mais quando o filho recém-nascido desaparece misteriosamente. Aos poucos, todos começam a suspeitar que algo sobrenatural assombrou a família.

    Há um aspecto que é absolutamente crucial quando se trata de um filme de terror/suspense, a sua atmosfera. E como se diz na gíria, “The Witch” acertou na mouche. A banda sonora é estrondosa, o trabalho de luzes formidável e a fotografia belíssima. Estéticamente é um verdadeiro espanto, criando um clima absolutamente sinistro que o realizador Robert Eggers soube aproveitar da melhor maneira para desenvolver a trama. Não é o filme de terror típico que aposta tudo em meia dúzia de sustos clichê, daqueles que já não aterrorizam ninguém, nem mesmo uma criança de dez anos. Não, este é um filme que aposta no suspense criado por toda a atmosfera e características que referi anteriormente, pois no fundo, o verdadeiro clima de terror é gerado pelo óptimo suspense, e Eggers entedeu isso na perfeição. Para além de todas as qualidades já referidas, “The Witch” ainda consegue debater questões pertinentes como a religião, pecado e culpa. Nem tudo é claro e certo, tal como nem todos os mistérios e perguntas são esclarecidas, mas deriva também daí muita da beleza desta obra, que muitos já apontam como um dos grandes clássicos de terror de todos os tempos.

       No que diz respeito ao elenco, não existem grandes destaques individuais, sendo que todos os actores que interpretam os diversos membros da família se apresentam a um bom nível.

        Não sei se terá o potencial para ficar na história do cinema de terror, como o “Rosemary’s Baby” de Roman Polanski ou o “The Shining” de Stanley Kubrick, mas é certamente uma das melhores obras de terror/suspense deste século. Mesmo que não seja grande fã deste estilo de filmes, aconselho vivamente o leitor a deixar-se embarcar nesta impactante experiência cinematográfica que é “The Witch”.

7.5/10