Eslováquia: nacionalismos “zombies” à solta – Nuno Araújo

Do centro da Europa vieram notícias alarmantes, para todos os defensores da democracia, da tolerância, da solidariedade. A Eslováquia, país da UE e com graves desequilíbrios na sua economia, estando mesmo à beira de um apoio financeiro internacional, registou um período eleitoral regional, na zona de Banska Bystrica, e quem venceu foi o líder do partido de extrema-direita, o “Eslováquia Nossa” (LSNS) , Marian Kotleba.

Os nacionalismos de índole xenófoba, já “enterrados”, parecem agora, como se de “zombies” se tratassem, ressurgir como resposta aos problemas sociais de algumas zonas na Europa.

Fazendo jus a uma repetição da história, em que abstenções altíssimas abrem caminho a fenómenos anti-democraticos, Kotleba venceu as eleições face a uma abstenção eleitoral a rondar os 80 % (oitenta por cento). A região pobre de Banska Bystrica também tem perdido postos de trabalho nos últimos anos, e a crise tem feito com que o discurso anti-roma vá ganhando adeptos que, por mais que sejam poucos, fazem a diferença em actos eleitorais com forte abstenção, mas em que o voto ideológico da xenofobia, da intolerância e do racismo está quase sempre garantido. E quando os votos nos partidos democráticos são muito poucos, todos os outros votos se transformam em muitos, até que se tornam em demasiados votos para ficarmos de braços cruzados.

A democracia tem disto. O voto, não sendo obrigatório, torna-se antes de mais num dever cívico, que cada vez menos é cumprido em determinadas regiões de países europeus, por ventura como represália a partidos e governos democráticos que não cumprem os seus deveres enquanto legais representantes dos direitos dos cidadãos de um país; deixando sem resposta nem esperança, e muitas vezes sem explicação, quanto ao desemprego e miséria que sofrem todos os dias na Europa, milhões de pessoas de todas as idades. Aí, os partidos de extrema-direita “jogam” com as emoções das pessoas, fragilizadas fisica e psicologicamente, agindo na “sombra da democracia”, pois fazem incidir o seu discurso sobre aquelas camadas populacionais ainda mais fragilizadas e mais votadas à exclusão social, digamos “aqueles em quem ninguém se quer tornar”. Temas como a economia paralela são sempre ligados às questões dominadas pelo preconceito, e é assim que partidos de extrema-direita vencem eleições numa região europeia, na Eslováquia, em pleno século XXI.

Lembremo-nos de como Adolf Hitler venceu as eleições de 1933, na Alemanha: de forma democrática, beneficiando de uma abstenção gigantesca. Se o número de votantes dessas eleições tivesse sido o dobro, o partido nazi nunca teria ganho aquelas eleições na Alemanha.

Não nos esqueçamos então de que quando nos abstivermos de votar em eleições, estaremos a recusar a própria democracia, pois abrimos caminho ao fundamentalismo como resposta aos problemas económicos e sociais das nossas civilizações.

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana