Estar sozinho não é o mesmo que estar só

Esta é uma crónica para todos: casados, solteiros, viúvos, felizes com o que a vida vos destinou ou em busca de algo melhor. Não é apenas mais um texto sobre amor. É “o” texto sobre o amor. Sabem porquê? Porque só quem está em paz com o seu coração está preparado para receber de braços abertos a alma do seu semelhante. Esta é uma edição do “Desnecessariamente Complicado” para ler, mas acima de tudo, para reflectir.

A sociedade está repleta de estigmas e preconceitos, mas poucos serão tão abrangentes como este. Se num grupo de amigos existir um(a) deles/delas que é solteiro(a) e não tem namorada(o) é quase certo que a atitude dos que estão uma relação será diferente com essa pessoa do que com as restantes. Calma, não estou a dizer que são menos amigos, ou que falam mais ou menos por causa disso. Estou a dizer que a atitude em si é diferente. Ou seja, quer isto dizer que evitam falar directa ou indirectamente de amor quando essa pessoa está presente. Porquê? Porque certamente que está arrasado(a) com a sua condição de solteiro(a) e como tal falar nesse tipo de assuntos pode ser desconfortável, certo? Sabem o que é desconfortável? Desconfortável é essa pessoa perceber que lidam com ela de forma diferente só por não ter namorada(o)!

É por isso importante esclarecer que nem todos aqueles que estão sozinhos estão sós. Estar sozinho significa não estar envolvido numa relação amorosa com ninguém. Estar só significa que o coração dessa pessoa não só está em cacos como também que pode, muito provavelmente, não ter amor para dar a quem quer que seja.

E digo-vos mais….eu, no momento em que vos escrevo estas palavras, estou solteiro. Mas não estou só. Sabem porquê? Porque não vivo atormentado com o facto de não ter ninguém. Quando tiver de ser, será, e não adianta apressar ou tentar mudar o destino. Aquilo que é verdadeiramente importante é acima de tudo gostarmos de nós mesmos. Claro que temos defeitos e virtudes como toda a gente, mas feitas as contas gostamos de nós, da nossa personalidade, da nossa maneira de ser. E porque é isso tão importante? Porque se não estivermos contentes com a pessoa que somos vamos, quase de certeza, tentar colmatar isso estando numa relação. E estando nessa relação vamos anular-nos dando mais importância ao outro(a) do que a nós mesmos. E numa relação verdadeira nenhum dos elementos é “superior” ao outro, são isso sim, iguais.

Ou seja, há muito boa gente que está numa relação porque não sabe estar sozinho. Habituou-se a ter sempre um(a) namorado(a) e assim vai continuar, apenas porque no fundo…nunca conviveu o suficiente com o seu “eu” interior. Tenho para mim que hoje (mais do que antigamente) há mais relações “só porque sim”. Não existe amor. Nem paixão. Nem fascínio. Nem atracção. Existe, isso sim, interesse e receio porque parece que a sociedade nos obriga a ter alguém a nosso lado. Aqueles dois seres podem namorar, mas nunca se irão amar verdadeiramente.

E porque é este texto para todos os tipos de leitores? Porque estar numa relação não significa que se seja feliz, que se esteja realizado, e que não se esteja só. Quantos casamentos não se mantêm apesar da falta de amor entre os elementos do casal? Quantos namoros não persistem apesar de ambos fingirem os sorrisos e de, noite após noite, chorarem tamanha é a tristeza quando a cabeça encontra a almofada? Quantas relações não teriam já acabado se houvesse coragem para tal?

De que serve estar numa relação se do outro lado encontram indiferença em vez de amor e desprezo em vez de um sorriso sincero? Os “benefícios” que socialmente uma relação pode ter compensam as noites mal dormidas, o coração desfeito em pedaços e a falsidade de cada beijo, de cada abraço, de cada elogio que é dito mas não sentido?

Termino dizendo-vos que gosto de quem sou, da personalidade que tenho, do mau humor matinal e da vontade em ficar acordado até de madrugada. Terei tantos, ou mais, defeitos do que virtudes, disso não duvido nem lamento pois são as falhas que me permitem melhorar. E é esse sentimento de aperfeiçoamento constante rumo a um futuro em que seremos melhores que faz de nós seres humanos. Estou sozinho e não tenho vergonha disso, porque não estar numa relação dá-me a oportunidade de dia após dia conhecer-me melhor e conviver com a pessoa com quem gosto mais de estar: eu mesmo. Podem chamar-me egoísta ou convencido (quem me conhece sabe que não é, de todo, o caso) eu prefiro dizer que é “amor-próprio”.

Eu não sou ninguém para dar conselhos, muito menos a pessoas mais velhas e com mais experiência (amorosa e não só) do que eu. O meu objectivo é apenas fazer-vos pensar sobre a sociedade de hoje em dia e, acima de tudo, sobre vocês mesmos. Sorriem, amem e sejam felizes convosco próprios antes de entrarem numa relação porque é impossível amar quem está ao vosso lado se não se amarem a vocês próprios.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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