Estou nos 20s! E agora?

Hoje, enquanto tomava pacatamente o meu pequeno-almoço e deambulava pela internet, deparei-me com um artigo que me chamou à atenção: “Os 15 maiores erros que as pessoas cometem nos seus 20s” (que podem ler aqui: https://insider.pro/pt/article/47229/ ) e pensei cá para mim “Eh lá! Estou nos 20s. E agora?” Agitadamente, abri a hiperligação, como se tivesse medo de descobrir que vivi toda a minha jovem maioridade de forma errada. Eis que começa a aventura.

  • Acham que basta ter educação e talento para serem bem-sucedidos.

Pumba! Primeira bomba. Numa sociedade cada vez mais educada pela tecnologia, como nos podemos fiar numa educação dada por um bonequinho verde, uma maçã trincada ou outras tecnologias que só falam em troca de um CD? Qual o talento que se cria usando apenas os polegares (e os outros dedos quiçá, nunca fui muito destas coisas), ganhando um grau de miopia que vai batendo todas as escalas e ficando com o campo de visão centralizado (o que acontece, por exemplo, quando os burros usam palas)?

Oh, os 20s começam tão bem…

  • Negligenciam a sua saúde

Excessos. Vivemos na era dos excessos. Álcool, drogas, tabaco, noitadas (privação do sono) e compulsão por comida (obesidade). Vamos lá pensar, estamos em Portugal, por isso há que ver as coisas pelo prisma certo. O governo caiu – bebe-se para esquecer. A taxa de desemprego jovem é alta – vai-se para a noitada porque não se trabalha amanhã de manhã. Como ocupar o tempo enquanto se espera que nos bata um emprego à porta? Comer! Tem tudo a sua lógica.

Siga para bingo.

  • Não começam a poupar

Três perguntas: Como poupar sem emprego? Como poupar com os salário “altíssimos” praticados entre a juventude portuguesa (incluindo os supostos incentivos do estado)? E como poupar com o célebre regime de recibos verdes a ganhar 2 e 3€ à hora?

Ficam as questões (Se quiserem ver as sugestões do artigo, abram o link no topo da página, que a mim até me dá calafrios).

  • Equiparam felicidade a dinheiro

Então, se são infelizes sem dinheiro, porque não comparar a felicidade ao dinheiro? Sem se experimentar, não se sabe. Quando poderá realmente um jovem saber que o dinheiro não traz felicidade se o que recebe não chega para essas experiências científicas?

Sim às experiências científicas, sff.

  • Desistem quando as coisas se tornam difíceis

Vá, o que é a vida em um pouco de drama? Não é fácil passar de uma geração apaparicada pelos antecessores para uma geração autónoma. A primeira porta que lhes bate na cara é dolorosa. Alguns ficam a ver os estragos que a porta lhes causou (a ver se o risco do cabelo ficou desviado, por exemplo), outros ficam a olhar para a porta na esperança que se abra instantemente e outros resolvem procurar a fechadura e tentar novamente.

É difícil estar nos 20s.

  • Deixam que sejam os outros a defini-los

A facilidade e a não responsabilidade. Não é mais fácil viver assim e atirar à cara dos outros que a culpa não é deles, porque não foram eles que ditaram as regras? Muitas vezes, tudo isto vem já desde a infância, onde grande parte das crianças é híper protegida pelos pais, tendo um sentido de autonomia muito baixo. “Ó Manelinho, não faças isso!” “Ó Maria, fica aqui sentada que podes cair.” “Ó Andrezinho, não comas areia.” Faz tudo parte, meu caros. Toda esta “preparação” começa desde muito cedo.

Mas não vale culpar os pais, estão a ouvir?

  • São impacientes

Claro. Esta geração pode ser chamada geração dos 20s ou a geração do “Quero”. Que não foi ao supermercado e em cada rua ouviu “Mãe, quero isto” ou “Pai, quero aquilo” acompanhada de uma birra descomunal caso os pais respondam negativo. E muitas vezes para não os aturar e não passar vergonha em público, cedem. Então a palavra de ordem é o quero e quanto mais tempo os pais demoram a ceder às estratégias dos meninos, mais a impaciência se instala. Tudo isto se vem a manifestar mais tarde, na hora de encarar a realidade.

Já vamos a meio. Impacientes?

  • Tentam agradar a toda a gente

Quem nunca sonhou ser popular? É difícil lidar com o sentimento de que alguém pode não gostar de nós, principalmente numa sociedade com umas instabilidade/fragilidade emocional como a nossa. Se se agradar a gregos e a troianos tudo fica bem e vivem felizes para sempre, certo?

Errado!

  • Acham que todas as amizades são para sempre

Não liguem, é a inocência. Por muito que queiramos, cada um tem a sua vida e mal saímos da faculdade começamos a levar com essas chapadas. Temos a feliz ideia de tentar marcar um jantar com todos, mas contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que estão disponíveis para a jantarada.

A vida continua. Uns foram ficando para trás, novos virão.

  • Pensam que mudar-se para um sítio novo vai resolver os seus problemas

A definição de problema é igual aqui a qualquer outra parte do mundo, só muda o idioma. A mudança tem que vir de dentro, do seu interior.

Profundo, não? Deve ser a pilha dos 20s a acabar…

  • Criam bolhas à sua volta

As consolas habitualmente só vêm com um comando, os tablets e os telemóveis só dão para uma pessoa. Cada vez mais as pessoas actuam a um nível individualizado, sendo difícil interagirem com outras pessoas quando na realidade estão habituadas a lidar com máquinas. Faceando essa dificuldade, é mais fácil continuar a evitar a interacção, criando assim distanciamento, a tal bolha.

Eles não sabem, nem sonham o que podemos aprender convivendo com outras pessoas. (PS: Também podemos “desaprender”, mas isso já é outra história).

  • Veem as coisas a preto ou branco

O problema é dos jovens ou dá pressão da sociedade? Muitos pais, durante a infância, não dão a real oportunidade das crianças vivenciarem o mundo. Aos 4 têm que ler, aos 6 têm que ser melhores que o Ronaldo e aos 10 têm que saber a tabela periódica de trás para a frente. Se não permitem que as crianças vejam o arco-íris da vida, como irão ver para além do monocromático quando se lançarem por si mesmas?

Fica a dica.

  • Procuram a sua “alma-gêmea”

A sério? No meio desta complicação toda ainda se procura o conto de fadas? É normal. No meio desta instabilidade toda, os jovens procuram um porto (supostamente) seguro. Uma relação com alguém que os complete. Muitos não sabem que não estão sequer preparados para estar numa relação, que não se conhecem suficientemente para que se possam dar a conhecer aos outros.

Mas fica o sonho.

  • Tentam projetar o futuro

Ainda se fossem os números do Euromilhões… Eu bem tento também. Quem não tenta projectar o futuro? Não é só para quem está nos 20s, mas um pouco geral. Aqui já tudo depende da personalidade de cada um. Alguns são obsessivo-compulsivos, que gostam de ter tudo organizado, outros gostam de ir ao sabor do vento.

Tendências.

  • Pensam que são os únicos de entre os seus amigos com dificuldades

Cada um “sofre” à sua maneira, correcto? 20s, 30s, 40s e por aí fora. Há muita gente com tendência para o fatalismo e que só os seus problemas são realmente maus. Comparar não ajuda a resolver, por isso nada de réguas e esquadros.

Se bem que eu acho que fui a única com uma tremenda dificuldade em ler esta lista e escrever sobre ela. Mas pronto cá me aguentei.

Depois de ler isto, não sei se ria, não sei se chore. Que conclusão faço dos meus 20s? Com uma brilhante expressão, muito usada entre os portugueses, termino: Podia ser pior!