Estreia de Fernando Santos foi pelos Laterais abaixo

O dia 11 de Outubro de 2014 estava marcado no calendário de todos os portugueses, como o momento em que iriamos, finalmente, voltar a derrotar a nossa besta negra e evitar assim a triste sina de 9 derrotas consecutivas. Não foi isso que aconteceu.  Num estádio composto por mais de 30 mil adeptos portugueses, a seleção das quinas não foi capaz de por um travão à locomotiva francesa, perdendo assim 2-1 na estreia de Fernando Santos. Terá a seleção melhorado? O que terá falhado? Passou, com distinção, o novo selecionador nacional, no seu primeiro teste? Bom prenúncio para terça feira?

Para tantas perguntas existem outras tantas respostas. No entanto, o primeiro ponto a ser analisado será o onze titular. Fernando Santos já havia demonstrado que pretendia alterar o que tinha sido feito até então por Paulo Bento. Seja pelo seu discurso, pela convocatória ou mesmo pelo onze, tudo isso demonstra uma completa ruptura com o modelo de jogo e a ideias do mesmo, outrora aplicadas por Paulo Bento. As novidades começam logo por ter apresentado um onze sem um verdadeiro ponta de lança, um “9” puro. Em vez disso, o ex-selecionador grego decidiu apostar num duo dinâmico na frente de ataque composto por Cristiano Ronaldo e Danny, que iam alternando entre eles o lugar mais ofensivo da equipa. Em diversas ocasiões durante o jogo a equipa também se dispôs num 4-3-3 com Ronaldo como homem alvo, actuando assim num sistema bem conhecido por todos. Além das alterações tácticas, que foram expostas no Parque do Príncipes, também as mexidas no onze foram evidentes. A começar nas laterais – o nosso pesadelo – , continuando no meio-campo e acabando no ataque. Ao todo foram 5 as alterações efectuadas. Cédric, Eliseu, Tiago, André Gomes e Danny foram os felizes contemplados com a presença na equipa inicial de Portugal.

Analisado que está o figurino inicial com que a nossa seleção se apresentou em campo, é tempo de escrutinar o jogo em si, tanto as exibições individuais como as colectivas. O que se notou desde logo, foi uma entrega diferente de todos os jogadores, apesar do golo  madrugador, que não veio nada a calhar, foi notório que havia mais entrega, mais garra e mais discernimento. Tanto pode ter sido por estarem a jogar sem pressão, como o que poderá ter acontecido é  terem aparecido as “ganas” de impressionar o novo selecionador, o que é certo é que a atitude nada teve a ver com os tempos de Paulo Bento, tempo esses em que os jogadores se arrastavam em campo e faziam com que a sua presença fosse um suplício. O principal problema de Portugal desde inicio foi, sem dúvida nenhuma, os laterais. Tanto Eliseu como Cédric meteram água até mais não, comprometendo por diversas vezes toda a equipa e estando na origem dos dois golos franceses. Se a presença de Cédric acaba por ser perceptível, a de Eliseu já não é bem assim. O defesa esquerdo do Benfica não está claramente na sua melhor forma e o jogo de ontem foi exemplo disso, não é por ter marcado dois golos que passa a ser uma opção de relevo. Quanto a Cédric Soares, o jovem lateral acusou a pressão em toda a linha e vacilou vezes sem conta. Contudo, se o problema principal foi a má prestação dos laterais, é injusto dizer que foi o único. Se a defesa sofre, o problema não é só dos mesmos, tem de haver qualquer coisa antes a falhar, neste caso, o meio-campo. O meio-campo português estava composto por jogadores de vocação marcadamente ofensiva, que não têm presente na sua génese a arte de bem defender. O sector intermédio português foi, por isso, um completo passador. No ataque as coisas também não estiveram melhores, com Danny muitos furos abaixo do valor que lhe é reconhecido e Cristiano Ronaldo sem bola. Tudo isto aliado a uma muito débil organização defensiva, só podia dar aso a muitas incursões e ataques continuados por parte dos gauleses. Porém, nem tudo é mau. O nível exibicional de Portugal foi auspicioso e uns quantos níveis acima do que tinha vindo a ser praticado. Os bons executantes da seleção das quinas ainda foram alguns. Pepe foi o melhor em campo, esteve imperial e dobrou diversas vezes as falhas sucessivas dos laterais. Tiago, Nani e Bruno Alves também estiveram bem e, obviamente, tem de ser referida a fabulosa entrada de mais um jovem prodígio português, João Mário, que entrou e “sacou” um penalty que serviu para amenizar os danos. Promete, o miúdo.

O novo selecionador português, Fernando Santos, ainda não está há um mês no cargo, contudo, já é possível fazer um “mini-resumo” do que foi feito até então. Há algumas arestas por limar, todavia, não se pode dizer que não estamos melhores, que não se nota o dedo do selecionador ou mesmo que a esperança não voltou a reinar, tudo isso não é verdade. A esperança renasceu e com ela vem a exigência que à mesma está intrínseca. Agora, sabendo que está aprovado pela maioria dos portugueses, Fernando terá de mudar algumas coisas que ainda não entram na cabeça dos mais fervorosos, nem na dos que não percebem nada mas que até gostam de futebol. Essas arestas, que poderão, obviamente, ser limadas a qualquer altura, prendem-se com a não utilização de Antunes, a não presença de Éder, um meio-campo sem um verdadeiro “6”, ou neste caso, William Carvalho e a não titularidade de José Fonte que é, sem grandes dúvidas, o central português em melhor forma. Quando se aperceber disto, que deve por Eliseu no banco, que terá de encontrar uma melhor alternativa para defesa direito e que a organização defensiva tem de ser trabalhada, aí sim, teremos todas a hipóteses de ficar no lugar que nos pertence, o primeiro lugar do grupo.

Assim foi, a história de um Fernando que de Santos só tem o apoio, que esbarrou no Parque dos Príncipes e impediu que os reis voltassem a tomar o seu lugar. Num jogo com sentido lateral, foi preciso um miúdo para por em sentido os “galos”, que saíram da capoeira e demonstraram, uma vez mais, que o seu poleiro é outro e que, enquanto os portugueses não acertarem o passo, a besta será ainda mais negra e o galo continuará a meter-se no caminho da vitória. Igualdade, Fraternidade e Liberdade, mas tudo no papel, porque a próxima vez que nos virmos em campo, o único grito será o da vitória.