Generalizações, Humanidade e Inconsistências – Viriato Queiroga

Tenho em mim algo que não sou capaz de precisar.

Talvez seja do contexto.

Talvez seja do dia.

Quiçá do sentimento de que, após a morte do dia de ontem, apesar de tudo ter mudado, no fundo, tudo continuou na mesma.

Dito isto poderia introduzir, aqui a temática típica do conservador filosófico: “é necessário algo mude, para que tudo fique na mesma”. A observância das idiossincrasias que nos rodeiam tem muito pouco de capaz, ou sequer, explicativo, da sua existência. Os conhecimentos são limitados, existe pouco tempo para os sentimentos e (dizem-nos) já não temos recursos para entretenimentos.

“Para o que temos nós, então, recursos?” Perguntarão os leitores desta mesma crónica, bem como o escritor desta. Eu… Prefiro não responder uma pergunta consequencialista quando isso significaria tratar a “rutura da artéria com um penso-rápido”. Porque muitas coisas são tratadas com pensos rápidos. Demasiadas. Demasiado rápido. Ao ritmo da involução social verificada pela escuridão que constitui a mente de quem nos rodeia, e o sofrimento impinge.

Todos nós crescemos pensando no ideal societário. Os sistemas de valores cresceram ao ritmo da expansão das potencialidades do cérebro humano. Claro que, simultaneamente, nos esquecemos de acompanhar as mudanças ocorridas aquando da conflitualidade social, inerente à existência dos nossos pares.

Coisa engraçada, essa, a da discussão.

Diria engraçada, pois a sua rara utilização permite a realização de diversos projetos, mas é o seu antónimo a mais popular arma de dominação: a assunção pseudo-realista (ou será justificação pseudo-realista?).

É com muito pesar que continuamos a ver muito do que nos rodeia sem que esse “muito” mude ao ponto de ser possível um efetivo aumento da condutividade das nossas pessoas. O que somos nós, seres humanos sem a capacidade de falarmos uns com os outros?

Foi esta a razão pela qual se impôs a punição de expulsão dos clãs, ou, na sua moderna forma, da prisão. E porque de boas intenções está o inferno cheio, continuamos a observar a instrumentalização das criações desenvolvidas.

Sim, com estas últimas frases eu referia-me ao Homem que ontem nos deixou: Nelson “Madiba” Mandela. Não podia terminar esta semana sem uma pequena homenagem lhe dedicar.

Todavia, é de considerar a opacidade de tais palavras no contexto atual:

– Guantánamo ainda existe como uma prisão política;

– Pessoas são presas, torturadas, expulsas, mutiladas, linchadas e mortas, devido à cor da sua pele, das suas cores políticas e da sua religião;

– As instituições são vistas como fins, para o bem das quais vale a pena sacrificar vidas humanas;

– A legitimação do guerreiro advém da morte, em justaposição do ensino da vida, proposta em “Bushido”…

Caro leitor, muito mais havia a dizer, no entanto…

Ironicamente apregoa-se a crise de valores da sociedade ocidental, a necessidade de regressarmos a valores familiares, ou a destruição cairá sobre as nossas cabeças (quais Gauleses contra Romanos…). Mas não serão essas as mesmas pessoas que propõem o final dos credos múltiplos que compõem a Humanidade?

Peço perdão, mas recuso a tentativa de submeter a minha mente a diretivas genéricas, incapazes de nos falar sobre o que é a essência do ser humano: o respeito pela diferença e a empatia.

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