A hipocrisia continua – João Cerveira

As mesmas pessoas que, há poucos anos atrás, votaram contra o PEC IV, um programa já aprovado pelo Conselho Europeu, que faria Portugal ter um processo de ajustamento como o de Itália ou da Espanha, isto é, sem Troika, participaram hoje nas manifestações organizadas pelo “Movimento Anti Troika”. Não é irónico?

O Bloco de Esquerda fez-se representar na manifestação com a sua actual coordenadora e com o ex-coordenador, líder na altura do sucedido. Francisco Louçã decidiu votar contra o PEC IV e, depois, decidiu nem ir falar com a troika. Ou seja, foi um dos que provocou o pedido de auxilio e nem se dignou a ir dar a conhecer as suas razões, as suas ideias, as suas motivações. Mas hoje estava na manifestação.

Arménio Carlos, secretário geral da CGTP-IN desde Janeiro de 2012 mas, desde 1977, membro do Comité Central do Partido Comunista. O que é que o PCP fez em 2011? Votou contra o PEC IV, abrindo as portas do país à Troika. Onde estava Arménio Carlos hoje? Na manifestação anti troika. O que é que ele costuma dizer em todas as manifestações? Que queremos a troika fora daqui. O que é que o PCP – só para relembrar -, juntamente com os Verdes, parceiros de coligação CDU, fizeram em 2011? Votaram contra o PEC IV, quando já havia sido anunciado que se o mesmo não passasse, seria necessário pedir ajuda internacional, vulgo FMI, vulgo Troika.

Quanto ao PSD e CDS nem é preciso dizer que votaram contra o PEC IV porque tinham sede de poder. Se assim não fosse, Pedro Passos Coelho não teria, dias depois de chumbar o referido Plano (de Estabilidade e Crescimento), aquela conversa com Angela Merkel, prometendo-lhe fazer tudo o que estava no dito PEC, mesmo tendo-o chumbado na Assembleia da República. Não é à toa que, num programa de televisão em que dois dos comentadores residentes são históricos do PSD e CDS, chamam a Pedro Passos Coelho o “Aprendiz de Feiticeiro”. Só mesmo um feiticeiro é que pode, depois de estar dia após dia a enterrar o país, fazer com que o mesmo renasça das cinzas.

Havia muitos que diziam que nós estávamos mal com José Sócrates, o primeiro ministro que negociou um plano sem troika que, como já se viu, quer em Portugal, quer na Grécia, quer na Irlanda, pode perceber muito de contas mas nada percebe – só para reforçar, nada – de governação e de Estado Social. E agora? Estamos melhor agora? Podem agradecer a PSD e CDS, principalmente, mas também a Bloco de Esquerda, Verdes e PCP por termos a Troika em Portugal.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…