A hipocrisia da Taça da Cerveja

Este Domingo jogou-se a meia-final daquela que muitos denominam como “Taça da Cerveja”, em alusão ao anterior patrocínio da cerveja Carlsberg. O Benfica voltou a bater o Porto e qualificou-se assim para mais uma final. Um F.C.Porto na sua máxima força deixou-se cair nos penaltys após ter jogado 60 minutos com mais um jogador e contra a equipa de “reserva” dos encarnados. A forma como a passagem à final foi festejada pelo Benfica e a forma como a meia-final foi encarada pelo F.C.Porto, deixa uma questão no ar. Afinal, qual é a importância da “Taça da Cerveja”?

Quando em 2007, pela mão de Hermínio Loureiro, se avançou com a ideia da Taça da Liga, muitas foram as vozes discordantes e indignadas. No primeiro ano de Taça, o Vitória Futebol Clube causou um grande choque ao vencer o Sporting e tornou-se assim, o primeiro vencedor da Taça que ninguém queria. A desculpa para o fracasso recaía sempre no “não é o nosso principal objectivo” ou “ utilizámos esta prova para rodar jogadores”, fazendo o sucesso dos outros clubes basear-se totalmente no demérito dos ditos “grandes”.

Porém, na época seguinte as coisas mudaram. Aquela competição sem interesse, sem importância e que apenas servia para cansar as equipas, ganhou uma “inesperada” projeção, ou se quisermos, o seu grau de relevância subiu a pique em menos de nada. Tudo se deve à actuação de Lucílio Baptista na final da Taça da Liga de 2008/2009, que, ao expulsar erradamente Pedro Silva por mão na bola, levou a que o Sporting perdesse a final e que isso degenerasse numa onda de ódio ao árbitro. Veja-se bem que, uma taça vulgar, fez com que se abrisse uma excepção e que o senhor Lucílio Baptista fosse ao Jornal da Noite pedir desculpa. A ira dos sportinguistas era gigantesca, choviam criticas de todo o lado, choviam apupos, insultos, ameaças, tudo por culpa do erro grosseiro do árbitro numa final que muitos diziam “pouco ou nada interessar”. Curioso, não? Ou devemos chamar-lhe hipocrisia?

A “curiosidade” não se fica por aqui. A “Taça Lucílio Baptista”, como passou amavelmente a ser conhecida depois da época de 2008/2009, continuou a ser uma competição secundária, que todos os treinadores afirmavam não ser um objectivo. Contudo, importa referir alguns factos. Nas restantes cinco edições a seguir à polémica final de 2009, o Benfica ganhou 3 delas com a possibilidade de ganhar a quarta, uma vez que está na final. Nessas três vitórias, é importante referir que a Taça da Liga foi, tanto em 2010/2011, como em 2011/2012 o único troféu dos encarnados e de Jorge Jesus. É possível afirmar, como algum exagero obviamente, que a Taça da Liga salvou a época, impediu que o clube terminasse a temporada sem conquistar nenhum troféu e que estivesse mais uma época a seco.

Como exemplo final, temos a meia-final disputada este Domingo. A equipa do F.C.Porto afirmou desde o inicio da época que esta competição não interessava, que não era um objectivo nem sequer secundário. Acontece que, em virtude da época desastrosa que está a realizar, o Porto acabou por depositar todas as esperanças numa possível vitória na “Taça da Cerveja”. O que acabou por suceder é que falhou. Falhou redondamente o objectivo menos importante da época e que acabou por se tornar a única salvação. Falhou diante do seu maior rival no seu próprio estádio, um total desastre.

A única coisa que se pede é que não se seja hipócrita. Que não se desvalorize uma competição logo de inicio, que não se atribua uma importância reduzida, ou que se diga que é a “taça dos pequenos” e que no fim se chore a eliminação da prova. Os clubes grandes que sejam coerentes e que não desdenhem o que, mais tarde, quererão comprar.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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