Já lá vão cinquenta anos…Meio século de “castigo”!…

Continuando o romance, relembrando que tínhamos ficado na fase das mentiras e castigos! Vamos ler mais um capítulo, mas será este mais risonho! Ainda não na totalidade. Ainda podemos reflectir sobre a forma como agiam os feitores, o modo como viviam os seus subordinados e ainda a total exigência no que respeitava a métodos e trabalho. Mas também podemos ver a cumplicidade entre irmãos.

…Outra ocasião, eu o meu irmão fomos brincar para fora da porta principal onde havia muita canalha. Nós andávamos até mais tarde, na vinda embora vínhamos a dizer um para o outro:-ainda bem que a patroa não nos viu! E não é que tivemos azar, porque ela estava a ouvir-nos. Disse logo de seguida:- amanha falaremos! Já ficamos a contar com o que poderia acontecer!

Todos sabemos que uma quinta não dispensava bois para lavrar as terras. Naquela altura, já lá vão quase cinquenta anos, e também tinha vacas de leite. Quem tratava desse gado eram dois irmãos. Um já tinha vinte e seis anos, o outro era da minha idade. O que aconteceu? Nesse dia não tiraram o leite. Ora no dia seguinte, a patroa, bem cedo, acompanhada de um pauzinho foi ter comigo ao dormitório. Virou-se para o meu companheiro:-porque razão ontem não tiras-te o leite? Ele nada respondia! Ela dá-lhe uma bastonada e ele sempre falou:- o meu irmão não me ajudou, eu também não tirei.Eu ali assistir ao espectáculo e ela vira-se para mim e diz:- porque vieste ontem tarde? Arriou-me logo: – o teu irmão já foi para baixo. Mais uma chicotada em mim, e ainda teve a lata de dizer: levaste tu em vez dele.

Depois no trabalho, conversando sobre isso diz logo o meu irmão: – ai ficaste apreciar, tiveste azar! Passado pouco tempo o meu irmão saiu de lá, foi para o seminário dos Combonianos. Andou lá dois ou três anos, e acabou por dizer á minha irmã mais velha que não queria continuar naquele seminário. Se pudesse ser queria ir para Singeverga. Lá foi ela tratar do assunto. Conversou com o responsável e a decisão foi-nos favorável. Andou lá pouco tempo, apenas tirou o segundo ano e desistiu. Voltou a dizer á nossa irmã, que o que desejava era tirar o curso de enfermagem. Ela lá arranjou a matriculá-lo. Conseguiu tirar o curso, além disso teve sorte porque no ano seguinte já exigiam o quinto ano. Este meu irmão continua a exercer a profissão.

A saída dele da quinta para mim trouxe benefícios, porque dormíamos na mesma cama e assim passei a dormir sozinho! Quando andou em Singeverga, o nosso irmão mais novo também lá andava e também ele desistiu. Frequentou as oficinas de José no Porto e hoje é tipógrafo.

Nessa altura estavam no hospital de Santo Tirso as minhas irmãs, e eu e os outros dois juntávamo-nos lá para fazer a consoada. Acontecia desta maneira, porque os dirigentes autorizavam. O que posso dizer é que vivíamos com alegria, só podemos dar muitas graças a Deus.

Voltando ainda ao meu trabalho da quinta! Para que a água dos poços fosse tirada tanto para consumo da casa, como de rega, só com os antigos motores, que pescavam a água a sete metros. Fui escalado para esse serviço. De inverno era agradável, além dos poços darem mais, havia menos consumo e não havia regas. De verão via-me consumido. Os poços davam menos, tanto para consumo como para rega, era preciso mais água. Existia aqui um processo desagradável O tal poço de S.José que nem para consumo dava, teria que vir doutro poço. Como a distância era muita puseram outro motor a meio de caminho, para resolver o problema. Só que não era pera doce! Ligava-se o poço e a seguir ia-se a correr ligar o outro, a uma distância de cem metros. Passado alguns anos, através da electrónica, já se resolvia tudo no mesmo lugar, tornando-se mais fácil…

E assim se vai iniciar uma nova fase na vida do Sr. Fagundes. Desta vez a sua competência vai ser posta á prova e valorizada! Será esta a cronica da próxima semana!

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa