Joaquim – O Carro Ciumento!

«O meu carro é o meu bebé.» Este é o pensamento de muito boa gente. O problema é que os bebés crescem e, por diversas vezes, não aceitam lá muito bem a vinda de um novo membro da família, quer seja ele um carro novo ou um bebé recém-nascido! No Pai Sofre desta semana irei falar sobre isso mesmo: crises de ciúmes que podem surgir quando a família aumenta.

Se nasceu na década de 70 ou 80, seguramente lembrar-se-á do filme Chirstine – O Carro Assassino. Um filme de 1983 (excelente ano, diga-se de passagem) que conta a história de Arnie, um jovem da Pennsylvania que adquiriu um fantástico automóvel: Christine. Christine é um Plymouth Fury de 1958, dotado de um feitio do pior. Um género de namorada ciumenta e possessiva que não lidava muito bem com o abandono. Se Arnie não lhe desse a devida atenção, ele castigava-o. Se alguma pessoa tentasse maltratar Arnie, Christine vingar-se-ia logo de seguida. E se alguém os tentasse separar, a morte seria mais do que certa. Lembra-se agora? Não?! Também não faz mal. Felizmente para mim o meu carro não é Christine – O Carro Assassino, mas sim Joaquim – O Carro Ciumento. Um carro que não mata, mas mói…

Certamente já ouviu falar que a vinda de um novo bebé, pode ser deveras traumatizante para o filho mais velho. É necessário “preparar bem o terreno” e explicar-lhe que a vinda do irmão (ou irmã) não será algo de mau, que o bebé não irá ficar com o seu lugar e que os vocês (pais) continuarão sempre a amá-lo da mesma forma.

O problema é que eu não fiz isso com o meu carro…Uma vez que a minha filha seria a primogénita lá de casa achei que não teria de explicar nada a ninguém. Bom, quer dizer… Em boa verdade tive que explicar à minha sobrinha mais nova todas estas coisas, mas ela aceitou tudo muito bem (após 5 looongooos meses sem praticamente nos falar, duas ou três birras enormes e um ou dois subornos com prendas e fins-de-semana lá em casa…). Mas o pior mesmo foi quando meu carro decidiu fazer birra por não termos falado com ele antes de isto tudo acontecer…

No dia em que fomos fazer a primeira ecografia, aquela que confirmaria a veracidade do teste de gravidez, o Joaquim avariou. Tinha ido para Lisboa já a dar sinais que algo não estava bem, mas aguentou-se. Depois, após a ecografia estar feita e o resultado confirmado ele “amarra o burro” e empanou no meio da auto-estrada. Isto às onze e meia da noite!! Mas claro, na altura não percebemos que estas duas coisas estavam interligadas. Ao fim ao cabo as avarias acontecem e os carros não têm sentimentos, não é verdade?!

Mas passado algum tempo Joaquim começou a não querer pegar. Umas vezes de manhã, outras de tarde, e outras até durante a noite. «O que se passa Joaquim?! O que tens tu rapaz?» – perguntei-lhe eu. Tinha os injectores entupidos – disse-me o mecânico – «Dê-lhe este xarope que isto passa.» Comprei-lhe o belo do “xarope” e lá ficou tudo resolvido. Até que, volvidos alguns meses, ele decide ter outra crise de ciúmes…

O tempo passava e a barriga da minha mulher estava cada vez mais linda e maravilhosa. Era tempo de fazermos uma sessão fotográfica. Queríamos imortalizar aquele momento. O problema foi que não convidámos o Joaquim para a sessão. Havíamos decidido fazer uma sessão fotográfica, em estúdio, só os três. Eu, ela e a nossa “rebenta”, confortavelmente instalada na barriga da sua mãe. Mas… Então e o Joaquim?! Não haveriam fotos do Joaquim connosco?! Não podia ser…

O Joaquim não aguentou tamanha traição e arranjou maneira de ter uma sessão fotográfica só dele. «Como?!» – perguntarão os caríssimos leitor. Muito simples, ele hipnotizou um pobre motociclista de modo a tombar para cima dele, em plena ponte Vasco da Gama. E isto no sábado mais quente do ano, com 40º a bater de chapa no carro. Ambulâncias para cá, bombeiros para lá, policia para além e a minha esposa dentro do carro, quase a ter o bebé devido a tamanha agitação. Conclusão: vi-me forçado a tirar mil e uma fotografias ao Joaquim não fosse a companhia de seguros querer “fugir com o rabo à seringa…”.

«Mas a história não fica por aqui…»

Se há coisa que um filho não compreende é quando gastamos dinheiro com o seu irmão e não com ele. Ora, se ao longo destes meses tínhamos vindo a comprar as mais diversas prendas para a nossa filha (berço, carrinho de bebé, banheira, roupas, brinquedos, etc…, etc…) e para o Joaquim nada, ele irrita-se e decide pregar-nos uma partida…

Um belo dia chego a casa e percebo que o Joaquim tinha estado a fazer “chichi” para o chão. «Ai, ai, depois de adulto é que lhe dá para isto.» – pensei eu. Mas o problema é que aquele “chichi” não era o problema, mas sim um sintoma. O Joaquim estava doente. Tinha a bomba de água avariada. E quem diz a bomba de água diz correia de distribuição. E quem diz a correia diz os tensores. E quem diz tensores diz… (Eu sei lá o que é que diz.) Diz que é uma pipa da massa, é o que diz! Foram €400 para o Joaquim. €400 que me faziam imensa falta para mil e uma outras coisas. €400 que certamente não teria gasto se tivesse perdido algum tempo a explicar ao Joaquim que o amamos muito e que, por muito que a família aumente, nunca, nunca nos iremos livrar dele e muito menos deixar de gostar dele…

Por isso, meus queridos leitores, que isto vos sirva de aviso. Se por ventura já tiverem um “filho” (seja ele pessoa, carro ou animal) expliquem-lhe sempre que a vinda do vosso novo bebé não irá afectar em nada o vosso amor por ele. Expliquem-lhes que o bebé será uma alegria para todos e nunca, mas nunca irão deixar de o amar, de cuidar dele, de o mimar, de o lavar, e de lhe fazer revisão sempre que necessário. E talvez assim os vossos “Christines” não fiquem tão ciumentos como o meu e vos preguem tamanha partida!

“Ai! Ai! Pai Sofre!”