A Lisboa do Futuro – SimCity à Portuguesa

Olá a todos os meus leitores! Antes de mais, quero aqui expressar os meus mais sinceros votos de um bom ano de 2016. Espero que a vossa Passagem-de-Ano tenha sido muito divertida, na companhia dos vossos familiares e amigos e que tenham passado a Meia-Noite numa das sugestões apresentadas na minha crónica de Dezembro. Pessoalmente, estive no Terreiro de Paço tendo assistido ao concerto de Richie Campbell e, devo dizer, foi fantástico. A antiga entrada de Lisboa estava repleta de gente, dos mais novos aos mais velhos, famílias, casais e amigos, sempre muito divertidos e esperançosos de um novo ano melhor que o anterior. Da minha parte, e deste projeto, esperamos que assim seja.

Bom, Ano Novo, Crónicas Novas, e cheias de novidades, claro está. Sim meus amigos, parece que o nosso Senhor Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, pretende renovar a nossa Cidade. A ideia de jogar Simcity até começou durante o mandato do nosso actual Primeiro-Ministro que, na altura, era o nosso Presidente da Câmara, mas como mudou de cargo político, Fernando Medina seguiu-lhe as pisadas e fez muitíssimo bem. Em termos pessoais, concordo plenamente. Lisboa, sempre foi uma cidade que, pela sua História, cativou muita gente de muitos lugares diferentes. Filipe II de Espanha, que foi o nosso Rei D. Filipe I de Portugal, aquando da sua entrada triunfal em Lisboa, proferiu as seguintes palavras: “Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa!” Portanto, quando temos um espanhol a elogiar algo em Portugal é porque realmente temos qualidade naquilo que o nosso povo faz, visto causarmos inveja aos nuestros hermanos.

D. Filipe I de Portugal

Este é apenas um dos muitos testemunhos que, ao longo dos Séculos, publicitaram Lisboa aqui dentro, neste nosso grande retângulo, e lá fora na Europa e no Mundo. Portanto, já é altura de devolver a grandeza e a beleza da nossa cidade aos Lisboetas e a quem nos visita. Sendo assim, a minha crónica deste mês, vem apresentar-vos as grandes mudanças planeadas em Lisboa, para este e próximos anos.

Primeiramente, começo por dizer que estas alterações constam no chamado Plano de Diretor Municipal. O PDM é um documento que coloca em evidência todas as regulamentações relativas ao planeamento e ao ordenamento do território de um determinado município português. É, desta forma, um documento que apresenta todas as propostas de requalificação, alteração ou urbanização para a cidade. O PDM Lisboeta mais recente foi aceite em Assembleia Municipal em 2013, ainda durante a Presidência de António Costa na CML. Os objetivos eram claros:

Atrair mais habitantes: Lisboa, nos últimos anos, perdeu muito da sua população e o grande objetivo passa pela criação, e recuperação, de várias infraestruturas que fomentem o regresso dessa população: criação e reabilitação de novas bibliotecas (por exemplo, o atual Palácio das Galveias, no Campo Pequeno, e que é lar da Biblioteca Municipal, encontra-se em fase de requalificação), a construção e recuperação de novos equipamentos desportivos e a construção de novos centros de dia e centros de convívio, de residências de 3ª idade e lares, de residências universitárias e de espaços multifuncionais (Temos ouvido falar da fusão da Universidade Técnica de Lisboa com a Nova de Lisboa, a relocalização da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas para Campolide, transformando a zona num novo Campus Universitário, a reforma que está prevista no ISCTE – Instituo Universitário de Lisboa, querendo-o transformar num dos maiores campus universitários da Cidade e ainda a recuperação do antigo centro comercial Caleidoscópio, no Campo Grande, reconvertendo-o num centro universitário, onde os alunos da UL possam estudar e trabalhar);

Futuro Campus de Campolide - FCSH
Futuro Campus de Campolide – FCSH
Palácio das Galveias - Biblioteca Municipal, Campo Pequeno
Palácio das Galveias – Biblioteca Municipal, Campo Pequeno

Obter um maior investimento das empresas e criar empregos: regenerar o corpo urbano de Lisboa, em áreas vitais, impulsionando a criação de atividades inovadoras e fomentando o comércio tradicional e recuperar antigos polos industriais, essenciais para uma sustentabilidade económica da Cidade, apresenta-se como uma das soluções para se conseguir captar investimento internacional, importante para o desenvolvimento da Cidade e do País, no geral (Por exemplo, temos a recuperação de alguns antigos Mercados – Campo de Ourique, Ribeira ou de Arroios – que hoje são compostos por várias empresas de restauração e que ajudaram a criar vários postos de trabalho. Uma visita a um destes Mercados será sempre um belo programa de tarde de Domingo com a família; a construção do novo edifício da EDP na Avenida 24 de Julho é também exemplo de algum investimento estrangeiro realizado na nossa cidade);

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Mercado da Ribeira – Interior renovado com novos espaços para restauração

Acelerar a reabilitação urbana: recuperar as habitações antigas da cidade passa por ser um dos objetivos mais importantes e preponderantes deste PDM. A zona histórica da Cidade e os seus principais bairros têm cada vez menos população e apresentam-se cada vez mais degradados. É essencial que, em vez de se contruir de raiz algo novo, se proceda à sua recuperação e que uma nova vida seja dada a estas importantes zonas (sobre isto, temos constatado que alguns edifícios da Baixa de Lisboa e até mesmo de alguns Bairros (Mouraria é exemplo) encontram-se em franca recuperação). Espero que a população regresse e que aproveite estes lugares requalificados e que as obras previstas para alguns dos 16 bairros, como o do Condado, da Horta Nova e da Alta de Lisboa, sejam breves e que rapidamente voltem ao normal;

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Exemplo de um dos Bairros em requalificação – “A Mouraria Vai Mudar para Melhor”

Requalificar o espaço público: este tem sido um dos vetores que mais tem sofrido alterações em Lisboa e, pessoalmente, considero ser um dos mais importantes. Já foram alvo de requalificação, por exemplo, a Praça do Martim Moniz, o Rossio, o Terreiro do Paço ou o Largo Vitorino Damásio e, de fato, sem um espaço público de qualidade e chamativo, pessoas e empresas não são cativadas para vir para Lisboa morar ou trabalhar. Para dar à população uma qualidade de vida e um espaço público decente as grandes alterações prendem-se com o reordenamento do trânsito automóvel (retirando o tráfego dos bairros e do centro histórico, melhorando a qualidade de vida e do ar destas zonas); reduzir as áreas reservadas à circulação de automóveis (aumentando o espaço de circulação para as pessoas); arborização da cidade e dos principais eixos citadinos (Sete Rios e a 2ª Circular são exemplos) e desenvolver uma rede de percursos pedonais de acesso às colinas, gratuitos, com o apoio de eixos mecânicos (exemplo disso, já está em funcionamento, os elevadores do Castelo – na Rua dos Fanqueiros e Rua da Madalena – e Chão do Loureiro – perto do Largo Adelino Amaro da Costa – e outro estará quase pronto, se é que já não está mesmo, em Santa Luzia). Outras obras previstas são a requalificação dos Largos Do Calvário, da Graça e de Santos; Praça Duque de Saldanha, Picoas, Praça do Chile e Alameda das Linhas de Torres;

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Largo da Graça no futuro

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Saldanha no futuro

Aproximar a frente ribeirinha à população: Não se pode contar a História de Lisboa, sem se contar a História do Tejo e vice-versa. Ambas estão intrinsecamente ligadas. Tendo em conta esta relação simbiótica é importantíssimo devolver o Tejo à Cidade. Para tal, promover-se-á à reconversão de 6,5 km da frente ribeirinha incluindo o Poço do Bispo, Santos, Alcântara e Pedrouços (Belém); intervenção na Av. Ribeira das Naus (já realizada e que está muito melhor agora – podemos observar os antigos locais dos estaleiros navais de Lisboa onde as naus eram construídas e reparadas. Será, ainda, construída um núcleo museológico alusivo aos Descobrimentos, em forma de Nau) e a construção do novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia. Uma medida inteiramente ligada para o turismo, mas que não deixa de ser importante para os Lisboetas; reduzir a importância do Arco Ribeirinho como eixo viário principal (aqui a proposta é clara – diminuir o trânsito automóvel e promover a circulação pedonal e a construção de espaços verdes e de lazer). Em suma, pretende-se criar novas áreas verdes públicas, novos espaços dedicados à cultura e a atividades ligadas à inovação e ao conhecimento. As obras de requalificação no Cais do Sodré, Corpo Santo e no Campo das Cebolas também já arrancaram;

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Cais do Sodré, quando terminado, será assim

Melhorar a mobilidade sustentável: com a requalificação do espaço público melhorar a mobilidade torna-se imprescindível. Aqui, mais uma vez, o grande objetivo é diminuir o tráfego automóvel em Lisboa e apostar nos transportes públicos e outras formas de transporte pedonal ou bicicleta. As medidas centram-se em criar zonas de moderação de tráfego; aumentar a rede de ciclovias (A Av. Duque de Ávila, São Sebastião, Arco do Cego, Campo Grande, Monsanto, Av. Infante Dom Pedro e Av. Frei Miguel Contreiras são já alguns exemplos prontos e em utilização); controlar a oferta de estacionamento e aumentar o estacionamento para residentes (para tal, está previsto a realização de obras na Av. Fontes Pereira de Melo e Av da República até Entrecampos), de forma a promover a utilização do Metro de Lisboa; prevê-se, ainda, recuperar algumas redes de elétrico de superfície e aumentar a rede do Metro (a Estação do Areeiro está pronta, mas falta ainda os acessos à estação de comboios. Segue-se a requalificação da Estação de Arroios, mas provavelmente demorará. O prolongamento da linha azul até à Reboleira também deverá já estar na sua fase final); A pavimentação da cidade também é uma das medidas e está muito bem encaminhada.

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Por toda a Lisboa, pretende-se promover uma mobilidade sustentável e amiga do ambiente

Incentivar a eficiência ambiental, aumentando o número de áreas verdes, de zonas permeáveis na cidade, promover a eficiência energética (praticamente em toda a Lisboa já está instalado o sistema de luzes LED nas sinalizações luminosas tricolores e para peões), adaptação de Lisboa aos veículos elétricos, reutilizar velhos edifícios em novos polos urbanos e incentivos à reciclagem de materiais. Está previsto a construção de dois túneis de drenagem de água com o objetivo de reduzir o impacto das cheiras em Lisboa. O mais longo ligará Monsanto a Santa Apolónia, mas espera-se que não afete a circulação na superfície.

Esta será a Lisboa de 2016 e dos próximos anos. Máquinas, obras por todo o lado, alterações de circulação, trânsito… São algumas das principais consequências que evidenciaremos nos próximos tempos. Apesar disto, há males que vêm por bem e, por isso, esperemos que sejam breves e passageiras, que rapidamente possamos de desfrutar de uma nova Lisboa. Uma Lisboa do futuro, ligada ao Tejo, que respeite a sua História e o seu passado e que melhore as condições da sua população e daqueles que a visitam. Que seja, ainda mais, uma cidade que faça com que Arnold Schwarzenegger diga “I’m back!”Uma Lisboa que seja sempre “menina e moça”.

Assim termino esta crónica. Não foi uma crónica a que estava habituado, é verdade. Não trago sugestões, mas sim observações daquilo que irá mudar na nossa muy nobre e sempre leal Cidade de Lisboa. Para que um dia, então sim, as possa visitar e usufruir daquilo que lhes poderá oferecer. Talvez, nessa altura, as apresenta como sugestões. Apesar disto, não deixe de visitar e de passear por Lisboa. Há sempre locais por descobrir e revisitar.

Lisboa agradece!