Monólogos numa casa-de-banho pública

Se existe um determinado tipo de pessoas que são propícias a situações desconfortáveis, eu pertenço claramente a esse tipo. Volta e meia, algo de extraordinariamente absurdo acontece, fazendo-me passar por estúpido, totó, ou mesmo por “urso”. Talvez por ser aquele tipo de pessoa que, confrontado com uma situação estranhamente absurda, simplesmente congela, sem saber o que fazer – acabando por escolher sempre a pior opção de como se comportar.

Inúmeras situações constrangedoras podem acontecer numa casa-de-banho pública. Não as vou enumerar, até porque prefiro que o leitor use um pouco da sua criatividade, e possa fazer esse mesmo raciocínio quando estiver numa casa-de-banho pública. Uma casa-de-banho pública é como se fosse um antro para que ocorram coisas absurdas. E o foi o que me aconteceu, uma vez mais, numa casa-de-banho pública.

Estava eu num famoso centro comercial de Lisboa, quando o meu corpo dá sinal de que estava na hora de fazer uma pequena visita à casa-de-banho. O que tinha tudo para ser um ida normal a uma casa-de-banho, acabou por se tornar numa inacreditável aventura. Entrei na casa-de-banho, escolhi um dos habitáculos disponíveis e sentei-me confortavelmente no “trono”, dando assim início ao propósito que me levou até aquele local. Mesmo quando estamos sozinhos numa casa-de-banho pública, nunca estamos descansados. Parece que há sempre um qualquer tipo de desconforto que nos impede de baixarmos a guarda naquele momento. Momentos depois, e quando eu estava quase a dar início ao acto de evacuação que iria aliviar e devolver o bem-estar à minha pessoa, entra uma pessoa na casa-de-banho e escolhe o habitáculo ao lado de mim. Por mim, tudo bem, visto que me encontrava numa casa-de-banho pública e isso significar que não posso escolher quem a usa na mesma altura que eu.

Bastaram segundos, para que a situação constrangedora se desse início, e um diálogo absolutamente absurdo se começasse a desenrolar. A certa altura, a pessoa que estava no outro lado diz: “Ei! Estás aí?”

Pela voz, tive a certeza que se travava de um homem. (Nunca se sabe o que pode entrar numa casa-de-banho pública…) A minha reacção foi apenas e só uma: o silêncio. Mas ele voltou a insistir: “Ei, estás aí? Estou a falar contigo…”

Novamente, optei pelo silêncio. E ele volta a perguntar: “Então, pá? Estás aí ou não? Que silêncio é esse…?”

Pensei que, se optasse pelo silêncio, ele iria calar-se e aperceber-se que eu não queria falar com ele. Honestamente, não estava com disposição para uma conversa estranha numa casa-de-banho pública.

“Oh, pá… Já me estou a passar contigo! Estás aí, ou não?!”, volta a dizer o homem, notando-se um tom mais agressivo na sua voz.

Antes que o homem entrasse em stress e fizesse alguma loucura, resolvi responder-lhe para tentar saber o que queria: “Sim, estou aqui… Diz… O que foi? Passa-se alguma coisa? Precisas de ajuda?”

“Ah, bom! Possa, estava difícil, hein. Até parecia que não querias falar comigo…”, diz ele, parecendo-me um pouco mais aliviado. “Então, está tudo bem contigo?“, continuou.

Eu, apesar de achar aquela conversa um pouco estranha, optei por responder para que não parecesse uma besta mal-educada: “Sim… está. E contigo? Está tudo bem?”

“Sim, está… Quer dizer, podia estar bastante melhor…” O seu tom de voz estava um pouco mais calmo…

“Mas… precisas de alguma coisa? É que, vamos lá a ver: eu estava aqui a modos que ocupado com uma coisa, estás a ver…?”, disse-lhe eu, tentando terminar ali a conversa.

“Oh, não sejas assim… Sabes, tu também não me pareces muito bem. E nós até podíamos ajudar-nos um ao outro…”, dispara o homem. Nesta altura, muito sinceramente, a conversa começou a parecer-me um pouco mais estranha do que já estava anteriormente…

“O que é que queres dizer com isso? Se me queres vender alguma coisa, aviso-te já que é melhores tirares o cavalinho da chuva, porque eu não estou interessado.”, disse eu, numa tentativa frustrada de acabar ali aquela estranha conversa.

“Vá lá… Sabes que sim. Sabes que eu sou capaz de te levar à lua se quiser…”, diz ele num tom maroto.

“À lua?! Mas que merda de conversa é essa, pá?! Quem é que tu pensas que eu sou?!” Nisto levanto-me da sanita, puxo as calças para cima e saio do habitáculo completamente enervado e capaz de fazer uma loucura.

“Tenho ainda 30 minutos de almoço. Posso passar por aí agora, se quiseres… Podíamos entretermo-nos à grande… Que achas? Passo aí agora? Hum?…”, disse ele.

“Passas aqui onde, ó meu bandalho?! Sai mas é aí de dentro que tens 30 minutos sim, mas é para levares uma sova daquelas, meu pelintra!”, disparo eu, completamente fora de mim e pronto para “tratar da saúde” àquele depravado d´um raio. Coloco-me mais próximo da porta do habitáculo, com os punhos fechados e prontos para esmurrar aquela besta. Nisto, a porta abre-se, e lá de dentro sai um homem com um telemóvel ao ouvido, com o típico sorriso maroto de quem está prestes a “ganhar o dia”, e diz as seguintes palavras: “Estou a caminho, mor. Amo-te!”

Foi no preciso momento em que ele pronunciou a palavra “Amo-te”, que deu de caras comigo à sua frente, com a típica expressão de alguém que está prestes a explodir a qualquer momento. Olhou para mim com um ar assustado, e colocou as duas mãos no ar, como que a dizer que se rendia. Quando me apercebi do mal-entendido que se tinha gerado ali, tive a única reacção que alguém pode ter numa situação assim. Disse: “Ah! Desculpe! Hum… Foi engano! E… boa sorte e tal com a sua cara-metade…” Pisquei-lhe um olho, virei costas e fugi da casa-de-banho a 7 pés.

Moral da história: As Casas-de-banho são um antro de mal-entendidos…

Até para a semana, malta catita.