Mourinho: O Pragmático Especial.

História. Feita, ecoada, repetida e quase que menosprezada por ser cada vez mais vulgar. Em poucas linhas é assim que se pode resumir a carreira do melhor treinador português de todos os tempos, e um dos melhores de sempre: José Mourinho. O agora, “Happy One”, conquistou mais um campeonato inglês na jornada passada e voltou assim a cravar o seu nome na história do clube, de Portugal, de Inglaterra e do mundo do futebol, no qual nunca será esquecido.

Apesar de toda a pompa e circunstância que um título merece, sobretudo o da melhor Liga do mundo, o certo é que  Mourinho ouviu tantos elogios como críticas. Críticas ao seu estilo de jogo “aborrecido”, desinteressante e sortudo. Pelo menos foi desta forma que muitos notáveis ligados ao futebol comentaram a prestação da equipa do Chelsea durante a Premier League de 2014/2015. Este terá sido, muito provavelmente, um dos títulos indiscutíveis mais criticados e comentados de sempre. Criticam a postura defensiva, apontam o dedo aos parcos golos e ainda acusam o Chelsea de jogar mal. Opiniões concordantes com estes argumentos depreciativos têm-se multiplicado à medida que o tempo passa. A chuva de mal dizer é cada vez mais intensa e a defesa da tese do “boring”, é cada vez mais redundante.

Tudo isto acontece porque criticar quando uma equipa ganha acaba sempre por ser mais acessível. Quando alguém que refuta as críticas, contorna os “inimigos” e usa o sarcasmo como prato preferido, vence, é sempre fácil ser criticado. Torna-se um alvo apetecível por ser fácil detestá-lo. Tudo isto tem acontecido com Mourinho. Tudo isto tem acontecido injustamente. Se por um lado é possível discutirmos a qualidade do futebol apresentado pelos Blues, por outro é inegável a eficácia, a “ratice” e, sobretudo, o pragmatismo apresentado pelo Special One. O agora treinador do Chelsea tem mudado um pouco os seus princípios de jogo ao longo do tempo. Tem-se fechado mais em copas para dar lugar aos ases que farão de si Rei. A melhor defesa é o ataque, diz a sabedoria popular, todavia, para o treinador português, o essencial para construir e formar uma equipa vencedora, é a postura defensiva. Nesse ponto ninguém lhe pode apontar o que quer que seja. A vertente mais recuada do terreno, é a que exige maior concentração, dedicação e trabalho, e o Chelsea tem-no feito.

Além de uma forma sólida de defender, muitas vezes confundida com anti-jogo ou “estratégia do autocarro”, o que se pode ver nas equipas de Mourinho, é a sua motivação. O timoneiro do Chelsea é perito em Mind Games e formas eficazes de motivar a equipa. Neste âmbito é único no mundo. Consegue fazer qualquer jogador pensar em si como o melhor do mundo. Até Hilário chegou a pensar que era um guarda-redes de alta tarimba por ter jogado no Chelsea. Mourinho é isto.  Um motivador nato que entende o futebol como ninguém e que com o passar dos anos optou por seguir um rumo diferente do esperado. Não joga um futebol espetáculo, atractivo ou demolidor, porém, produz resultados. Alcança títulos e, por mais que os pseudo-entedidos em futebol o desvalorizem, já marcou um lugar eterno na história. Um lugar que estará gravado nas bancadas de Stamford Bridge e no museu do Real Madrid, Inter, Chelsea, F.C.Porto e até mesmo do Leiria.

Não gosto do Chelsea  – o facto de adorar o Arsenal assim me impede – , não sou fã de jogos 0-0, muito menos gosto de ver uma equipa fechada a jogar no erro dos adversários. Não obstante, sei reconhecer qualidade a quem merece. Sei dar o braço a torcer quando tem de ser e afirmar que o homem que treina os azuis de Londres nasceu para ser grande, para respirar futebol, para viver futebol. Mais do que tudo, sei valorizar o pragmatismo especial do “novo Mourinho”. Um pragmatismo que não é esteticamente belo, mas que ganha títulos e bate recordes. Um pragmatismo que faz com que alcance o mais importante no futebol: as vitórias. O resto, não passa de conversa de café.