Negócio do (des)Emprego – Rafael Coelho

Há cerca de dois anos que tenho mantido um contacto assíduo com sítios e portais divulgação de serviços, como é o caso do emprego e também aqueles que disponibilizam gratuitamente (ou não) anúncios classificados para venda de artigos domésticos ou bens de maior valor, quer usados, quer novos, desde pequenas bijuterias e artesanato, a roupa, artigos de tecnologia, telemóveis, computadores e também carros e imóveis.

São serviços de facto muito úteis para pessoas que têm a necessidade de vender algo de que não precisam, ou mesmo precisando têm necessidade de vender; em contrapartida com pessoas que podem adquirir determinados produtos ou serviços, conseguindo alguma interessante poupança, por serem artigos comprados ou trocados diretamente entre interessados.

Esta forma de negociação direta proporciona, além de poupanças para quem compra e retorno mais fácil e rápido para quem vende, poupanças importantes no meio ambiente, uma vez que o destino provável de determinados objetos desnecessários e não utilizados que todos temos em casa, poderia ser um dia o lixo (e consequente poluição), esses objetos podem adquirir vida nas mãos de outrem a quem sejam necessários e úteis.

Portanto, vistas assim as coisas, parece que tudo seria bom neste conceito. Porém, para o comprador, é necessário sempre algum cuidado na avaliação do negócio, no risco em que pode incorrer, devido à existência de defeitos ou anomalias no artigo ou até em artigos inexistentes e ainda na passagem de dinheiro.

Existem sempre aqueles que aproveitam as boas ferramentas eletrónicas, que o são para uns, mas não para todos. Muitos desses anúncios que custam zero a quem os publica, pode porém haver uma intenção de lucro obtido de forma fraudulenta por detrás dessa ação. Há relatos de pessoas que anteciparam pagamentos ou fizeram transferências de artigos inexistentes e depois de descobrirem a burla, dificilmente conseguem vir a recuperar o que gastaram.

Para além dos anúncios a produtos, existem também anúncios a serviços, nomeadamente anúncios de emprego. Para estes, há que ter ainda mais atenção, uma vez que muitos deles servem apenas para que muitos dos necessitados de emprego ou com ambição a procurar novo emprego, disponibilizem o seu currículo e dados pessoais, que muitas vezes são utilizados não para o fim a que se destinaram, mas para campanhas de marketing, ou mesmo para efeitos de pishing. Muitos são os indivíduos que vivem às custas da burla informática, principalmente a pessoas menos esclarecidas que são, muitas vezes, as mais necessitadas.

Inúmeras também são as situações de portais de emprego que retêm os dados e os currículos de pessoas, que depois vendem a empregadores. No entanto, nem sempre são os empregadores que compram esses dados, pois por vezes são esses piratas informáticos que o fazem, para tentarem ludibriar as pessoas menos esclarecidas.

Estranho se torna ainda que muitos anúncios de emprego apareçam em constantes semanas consecutivas, sem que depois os candidatos recebam qualquer feedback acerca das suas candidaturas. O que parece muitas vezes é que essas pseudo empresas de recursos humanos ou de trabalho temporário só pretendem criar bases de dados de pessoas para diversos fins e não para aqueles a que se propõem.

Aqui fica assim o conselho a todos os que disponibilizam os seus dados sem saberem muitas vezes para quem e para que fins o estão a fazer e, mais tarde, são surpreendidas com contactos que não sabem de ondem vêm nem porquê, já para não falar na eventual utilização abusiva dos mesmos. Certifique-se sempre muito bem acerca das entidades para as quais disponibiliza os seus dados.

 

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro