Nova Geração D’Ouro tem um brilho impossível de esconder

3+2. 4+1. Ou simplesmente, 5. Estes foram os golos marcados por Portugal na meia-final do Campeonato da Europa de Sub-21. Só por si, são números para serem sempre considerados exagerados. Se a isso adicionarmos a variante meia-final de uma competição tão importante como o Euro sub-21 ainda causa mais estranheza; se a esse número ainda adicionarmos o 0 e o associarmos aos golos sofridos pela equipa das quinas, a estranheza e o espanto aumentam; se depois de tudo isto dissermos que o visado pelo tanque português foi a Alemanha, aí sim, tudo se torna um choque. Porém, não é o jogo que interessa, nem a óptima prestação em si. O tema central, será, a chave mestra para o futuro do futebol português: a Nova Geração D’Ouro; ou como se diz na gíria, “a nossa formação”.

Os números nem sempre são como o algodão, algumas vezes escondem impurezas, imperfeições ou mesmo o perfume diversas vezes demonstrado e pouco espelhado nos algoritmos. Contudo, no embate do passado Sábado, que opôs a toda poderosa Alemanha, à seleção sempre subestimada, de Portugal, não é um caso desses. Os números apresentam os factos e explicam tudo o que se passou. Uma equipa das quinas avassaladora engoliu uma equipa Germânica que de tão fria que é, apresentou-se gelada. Não só o resultado final causa alegria, também o futebol praticado nos deixa todos de sorriso rasgado. Uma EQUIPA – na verdadeira acepção da palavra – que se opõe a uma das maiores potências do futebol mundial, só pode estar predestinada ao sucesso. Existem aspectos inerentes ao jogo  que têm de ser vincados, entre eles o facto de que de “sorte”; “engano” ou “um num milhão”, este desafio teve pouco. Portugal demonstrou ser capaz de o voltar a repetir as vezes que forem necessárias para provar ao mundo do futebol que, aquele país à beira-mar plantado, cuja população mal ultrapassa os 10 milhões e cujo tamanho não ultrapassa o de um pontinho no globo, tem de ser visto como um caso sério no desporto rei. A brilhante prestação no Europeu de Sub-21 – no qual ainda não perdemos e apenas sofremos um golo em 4 jogos – só deixa surpreendido quem pouco ou nada se interessa pelas camadas jovens. O que aqui se viu, e continuará a ver, é apenas a ponta do iceberg no que concerne à qualidade colectiva  destes rapazes.

Para quem anda atento, ver Bernardo Silva, William Carvalho, Sérgio Oliveira, Ricardo Pereira, Paulo Oliveira e José Sá; a humilharem jogadores como Volland, Ter Stegen, Meyer, Bittencourt ou Ginter; acaba por ser um processo normal, e algo esperado. Esta geração não nasceu ontem e não demonstra talento há 10 dias. Desde há vários anos que já se esperava que o futuro de Portugal estivesse bem assegurado. No entanto, os sub-21 – etapa mais avançada da formação -, não são os únicos a merecer destaque. A seleção de sub-20, que entrou em Maio no Campeonato do Mundo da categoria, tinha equipa para ter sido campeã mundial e ter elevado assim o nome de Portugal a um patamar ainda mais elevado. Os jovens portugueses não deviam nada a nenhuma das seleções presentes e, exemplo perfeito disso mesmo, foi a superiorização da nossa seleção à do Brasil, num jogo onde apenas perdemos por pura aselhice dos marcadores de penalties e manifesta bruxaria que impediu a bola de entrar ao longo dos 120 minutos. Mais uma geração carregada de talento, que estará à altura de todo e qualquer desafio a nível internacional. Se dos sub-20, passarmos para os sub-19, veremos que o talento continua lá, mesmo apesar de Edgar Borges não ter conseguido qualificar Portugal para o Euro sub-19, os seus pupilos foram muito competentes, perdendo apenas com uma Espanha fora de série que é – e sempre será – um osso duro de roer. E podíamos ir andando por aí abaixo no que à formação diz respeito, vendo e analisando cada escalão e chegando a uma conclusão: qualidade não falta. Respira-se talento, os predestinados vão aparecendo com mais frequência e as equipas nacionais vão valendo cada vez mais pelo seu todo e não por uma individualidade que carrega a equipa às costas, o que acontece, por exemplo, na seleção A. Uma envelhecida equipa principal que é carregada às costas por Ronaldo. É tempo de se por os olhos nos escalões inferiores de formação e tirar algumas ilações. Ou jogadores. Não os seus timoneiros, mas isso são outros quinhentos.

A verdade é que a confiança generalizada que, pouco a pouco, se vai tendo relativamente ao futuro da seleção portuguesa, é sinónimo de que há cada vez mais jogadores portentosos a despontar e que esses jogadores, em virtude de inúmeras variantes, vão sendo cada vez mais utilizados nos seus clubes. O paradigma está a mudar. Que se culpe a crise, que faz com que os clubes tenham de apostar mais em prata da casa – vulgo, formação – e em jogadores portugueses; que se culpem as escolas de futebol que formam cada vez mais e melhor; que se culpem os destemidos que não têm receio de apostar no mercado nacional mesmo tendo hipóteses de ir ao estrangeiro; que se culpem as equipas B que têm dado competição aos miúdos e aos jogadores que pouco ou nada jogavam a nível profissional; que se culpe tudo isso, mas que se perceba que o caminho está a ser feito de uma forma correcta e sustentada. As ditas e já faladas, equipas B, são um bom exemplo de um caso de sucesso a este nível. Apesar do claro problema – e alguma revolta, para ser honesto – no que toca à Liga onde estão inseridas, tirando assim espaço a outras equipas, bem como tendo inúmeras implicações negativas ao nível dos orçamentos; as equipas B têm sido um bom viveiro de jovens. Obviamente que o seu exemplo só pode ser dado porque os clubes em Portugal, apesar de irem mudando o paradigma aos poucos e poucos, estiveram vários anos receosos de apostar no que é nacional. Se isso não tivesse sido uma constante, talvez as “B” não fossem necessárias. Quem sabe. O certo é que existem. Certo é também que o efeito d’“o que é nacional é bom”, tem sido notado em vários clubes da Primeira Liga, tendo o Belenenses e o Vitória de Guimarães como casos de maior sucesso e o Sporting, ainda que sem apostar tanto como os outros dois, como porta estandarte do método de aposta na formação. Tudo isto é de louvar, tudo isto tem dado frutos, tudo isto tem feito com que o nome de Portugal, neste caso do jogador português, seja abrilhantado, tido em conta e admirado. Depois do treinador português ter sido – e ainda o ser –  um caso de sucesso, é tempo de dar o lugar aos verdadeiros protagonistas e mágicos da bola: os jogadores.

A final do Euro Sub-21 é apenas um começo. Um começo do que será uma época de ouro para o futebol português, um inicio de uma etapa que deixará os adeptos de futebol em geral, e os portugueses em particular, vidrados na qualidade apresentada pelos intervenientes da seleção das quinas. Enquanto continuarmos assim, seguindo a senda de Rui Jorge, que mesmo jogando frente à Alemanha não se encolheu e manteve a identidade de 4-1-2-1-2 que tão bons resultados tem dado a Portugal; teremos um futuro tão ou mais risonho do que imaginamos. Vamos repetir Riade, vamos repetir Lisboa, vamos dominar Praga para depois termos Paris no horizonte. E com tudo isso, a noção de que podemos, devemos e temos condições para ser cada vez mais fortes. Esta Geração D’Ouro tem um brilho tão grande e reluzente, que ninguém o esconderá.