O meu dia está bastante preenchido! – Raquel Santos

Abri a minha agenda que estava em cima da secretária. «Hoje tenho imensa coisa para fazer!» – fiquei surpresa.

Há dias em que temos imensa coisa para fazer e nem sabemos para onde nos virar. Hoje estava assim, com a agenda totalmente preenchida. A manhã começa com a ida a uma consulta de rotina com a minha avó. Imediatamente a seguir, tive de deixá-la em casa da minha tia para ir para a formação. Pois é, o centro de emprego tem agora (aliás já há algum tempo) ofertas irrecusáveis: “Cursos” em vez de empregos. Vendo bem, até devia de se chamar centro de cursos, ou qualquer coisa do género. Ou então centro de desempregados, pois existe quase mais desempregados do que empregados. Convínhamos, é sempre bom aprendermos coisas novas, consolidar aprendizagens que já temos mantendo-nos ocupados. É verdade que tem as suas vantagens mas esquecem-se de alguns pormenores: os cursos não duram sempre e o dinheiro não chega para tudo. Mas temos de os fazer.

Acabada a formação, despedi-me a correr da professora e dos colegas e sai velozmente da sala em direção à rua. Tinha de chegar rápido a casa, porque a minha irmã vinha lá almoçar e não tinha almoço preparado para ela. «Ufa, hoje é sempre a correr. E há dias em que não temos nada para fazer ou nem sabemos o que fazer!» – desabafei com os meus botões, enquanto entrava no carro.

Coloquei a chave na ignição e pus rodas à estrada! Na vinda para casa, mesmo a cerca de 500 metros do destino, algo tinha que acontecer para atrasar mais as coisas.

Uma pessoa que anda stressada parece que tudo corre mal. Andamos mais aceleradas e o mundo não nos acompanha. É como quando queremos que a comida que está no fogão fique pronta, porque temos de sair ou alguém à nossa espera e aumentamos o lume e em vez de despachar atrasamo-nos, porque acabamos por queimar tudo. «Que desespero…» – pensei eu – «Tinham mesmo que me bater agora no carro!!»

O senhor estava a sair da garagem e não reparou que me aproximava e… pumba. Obviamente que não ia muito devagar, passei lá quase a voar, mas não o suficiente para impedir o acidente. Eu estava com pressa e queria chegar a casa o quanto antes. Barulho não faltou, até acordou a vizinhança toda, pois olhei à minha volta e era só vultos, pessoas por todo o lado. «Hora de almoço e as pessoas não vão comer?!» – questionei-me.

Ainda perdi alguns minutos e quando cheguei a casa já não tive tempo de fazer o almoço. Tirei pão da arca, descongelei e comemos umas sandes. Para finalizar, e não menos importante, só faltava mesmo o cafezinho. Numa caneca tinha um pouco de café que tinha sobrado do pequeno-almoço e aqueci no micro-ondas. Ao tirar do micro-ondas, não sei bem porquê, mas a caneca estava quentíssima, tal como uma brasa acesa do lume e queimei-me. Deslizei repentinamente em direção à banca e abri a torneira de água fria. «Aí que alivio. Estava mesmo a doer!» – suspirei – «Hoje que tenho tanta coisa para fazer acontece sempre algo para me atrasar!»

De repente toca a campainha insistidamente. «Ai bolas, agora que tenho de ir ao banco é que tocam à campainha»

Espreitei pela janela para ver quem era, e era uma daquelas vizinhas que quando começam a falar nunca mais se calam. Suspirei fundo e sentei-me no sofá da cozinha à espera que ela se fosse embora. Eu sei que é chato, mas hoje não podia mesmo atendê-la e assim faz de conta que não estava em casa. A hora estava a avançar e eu ainda não tinha tudo feito.

Antes de sair ainda passei pelo galinheiro para pôr milho às galinhas e reparei que o meu cão estava a espumar pela boca. Fiquei logo a tremer e com medo de ficar sem ele. Aquele cão era como se fosse da família. Peguei nele com força e levei-o, sem pensar em mais nada, ao veterinário mais perto, acabando por não fazer mais nada do que eu planeei!

Um conselho: não planeies muito o teu dia porque algo inesperado acaba sempre por acontecer. E lembra-te as pressas dão sempre em vagares.

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Pequenos Desabafos