O Mundial para além das questões políticas!!!

Brasil: dos Descobrimentos ao Cabo das Tormentas

Brazil Soccer WCup Germany PortugalEm 1500 Portugal descobriu o Brasil pela mão de Pedro Alvares Cabral. 514 Anos depois, aquele lugar paradisíaco tornou-se na mais recente das tormentas para todos os portugueses (pelo menos para aqueles que vibram com a selecção).

Embora nunca tenha colocado grandes expectativas nesta participação lusa, estava convicto de que chegaríamos pelo menos à ronda seguinte, logo, esta participação deixou algo a desejar. Mas não se pode dizer que Portugal fez um péssimo mundial, ou que tinha obrigação de chegar aos 8 melhores. Se olharmos bem para o nosso passado mais distante, estar presente numa fase final de uma grande competição era desde logo um feito extraordinário, logo estas duas últimas décadas têm sido a excepção (esperemos que não seja apenas isso).

O que faltou para que as coisas fossem diferentes? Agora é fácil falar nos quatro golos que Cristiano Ronaldo falhou diante do Gana, é fácil 1culpar Pepe ou Rui Patrício pelo primeiro jogo, falar na falta de um lateral esquerdo para render Coentrão, ou culpar as lesões de um terço do plantel. O que é certo é que, tal como outras selecções já passaram por isto, a Espanha é o outro exemplo mais flagrante do momento, todas as selecções têm um ciclo, têm o seu tempo, e o tempo desta geração chegou ao fim. É hora de baixarmos as nossas expectativas e dar tempo para que outra geração surja e volte a colocar Portugal no topo. Isso é algo a fazer gradualmente e certamente muitos jogadores vão passar por lá, mas poucos vão ser aqueles que serão indiscutíveis e, só quando conseguirmos ter uma base de cerca de 9,10 ou 11 jogadores indiscutíveis é que poderemos exigir à nossa selecção lutar por algo mais que não seja a presença nas fases finais das grandes competições.

 

Uma fase de grupos cheia de golos e a prometer muito…

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Numa das melhores fases de grupos num Mundial, o futebol de ataque e os golos foram o grande mote de entrada da competição. No entanto, falar em golos e futebol de ataque, nem sempre significa bom futebol ou inteligência táctica. Começaram por surpreender as formações sul-americanas, talvez mais adaptadas ao ambiente e às elevadas temperaturas que se faziam sentir no Brasil.

Para o espectador mais atento e que segue o futebol mundial, as prestações de Colômbia, México, Chile ou até mesmo da Bélgica, não foram assim tão surpreendentes como muitos vão dizendo. Pessoalmente, estas selecções têm valores individuais e colectivos capazes de alegrar e entusiasmar qualquer amante do futebol.

A magia colombiana, alicerçada no génio James Rodriguez, foi um dos maiores destaques da imprensa internacional e mesmo nacional, jamesembora nada que tivesse surpreendido (na crónica de lançamento do Mundial referenciei “los cafeteros” como uma das principais surpresas). A Colômbia não me decepcionou. Demonstrou grande futebol, deu espectáculo, ofereceu golos de belo efeito e proporcionou jogadas de encantar, mantendo sempre um rigor táctico acima da média, ou não fosse o seu seleccionador, José Pekerman, um dos maiores conhecedores da modalidade na América do Sul.

A saída precoce diante do anfitrião Brasil acabou por me surpreender, uma vez que, embora tenha apontado a turma canarinha como uma das principais candidatas, ao longo da competição nunca vi um Brasil coeso, com um jogo fluido e uma boa organização. Vi anGroup A - Brazil vs Croatiates uma selecção amorfa, sem rigor táctico, sempre à espera de rasgos individuais, onde Neymar se foi destacando quase na maioria das vezes. Scolari acabou por me desiludir nesse aspecto e, apesar do bom jogo diante dos colombianos, a partida frente à Alemanha trouxe à superfície e de forma bem clara, todas as fragilidades da equipa da casa.

 

 

Alemanha e Holanda foram as excepções num Mundial de desnorte europeu

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Muita gente aponta as saídas precoces das selecções europeias deste Mundial ao clima (temperaturas elevadas e muita humidade). No entanto, a explicação que eu encontro tem mais a ver com o grau de exigência dos grandes campeonatos europeus, quase todos disputados até à última, bem como as competições europeias que são bastante exigentes.

Logicamente que existe aqui um contra-senso, muito por culpa da Alemanha e até mesmo da Holanda. No entanto, são duas questões muito simples, nas quais vejo duas respostas, também elas bastante fáceis: ora a Bundesliga foi categoricamente e muito atempadamente vencida pelo gigante Bayern de Munique. A questão da liga alemã cedo ficou resolvida e os bávaros caíram também nas meias-finais da Liga dos Campeões. A base da selecção germânica é a equipa de Pep Guardiola que fez uma gestão do seu plantel, permitindo à grande maioria dos seus principais atletas terem muito menos minutos nas pernas do que era suposto.

Tudo isto serve para explicar a boa campanha alemã e a frescura com que grande parte dos seus jogadores se apresentaram em prova, para além, claro está, do seu onze inicial jogar na sua grande maioria junto no Bayern, com um estilo de jogo muito bem aproveitado por Joachim Low, homem que muitas vezes é colocado em segundo plano, mas que tem feito um trabalho fantástico ao leme da sua selecção.

Já a selecção holandesa tem, o que tem sido pouco usual nos últimos tempos, uma selecção com muitos jogadores a actuarem, ainda, no seu Brazil Soccer WCup Netherlands Argentinapaís. Ora toda a gente sabe que a liga holandesa não é das mais exigentes da Europa, nem as suas equipas têm por hábito chegar muito longe nas provas da UEFA. Para além de tudo isso, quer Van Persie, quer Robben, as duas grandes estrelas da equipa, chegaram a este Mundial com menos minutos do que seria de esperar, o avançado do Manchester por questões físicas acabou a época um pouco mais cedo, e o extremo do Bayern teve menos tempo de utilização devido à rotatividade imposta por Guardiola.

Logicamente que isso só não chega para explicar a boa campanha da laranja mecânica, e a outra explicação que encontro prende-se, e muito, com Louis Van Gaal. O experiente e muito titulado técnico holandês transformou o futebol da Holanda. Deixou para trás o futebol espectacular e virado para o ataque para consolidar processos defensivos e colectivos. Deu coesão à equipa, organizou as tropas e passou a fazer um jogo mais directo, aproveitando a velocidade e o talento individual dos seus homens da frente, especialmente de Van Persie e de Robben que esteve em grande neste Mundial.

Soccer friendly - France vs NetherlandsA bela surpresa francesa…

A França foi, dos habituais gigantes europeus, aquele que mais me surpreendeu. Não apenas pelo bom futebol que apresentou, mas pela excelente organização que Didier Deschamps implementou no grupo. A ausência de Ribery acabou por ser um ponto a favor dos gauleses, permitindo ao seu técnico reforçar o meio-campo, repleto de excelentes executantes, dando liberdade a Valbuena que fez um belo Mundial. Não a sorte ditar uma poderosíssima Alemanha nos quartos-de-final e esta França tinha tudo para chegar bem mais longe nesta competição.

espanhaEspanha no top das desilusões

No meio de tudo isto, a grande decepção acabou por ser mesmo a detentora do troféu, a Espanha. Del Bosque acabou por se deixar levar pelo fim de ciclo catalão e o “tiki-taka” já não deu resultados, sendo que a humilhação frente à Holanda acabou por ser o momento chave do percurso espanhol na competição, saindo sem história, tendo sido umas das primeiras formações a dizer adeus à prova.

Quanto a Inglaterra e Itália, reforçaram a minha ideia de que estão cada vez mais longe do topo do futebol mundial a nível de selecções, e costa-ricacoloco-as no nível de Portugal. A entrada de muitos jogadores estrangeiros nos seus campeonatos veio trazer os mesmos problemas com que a selecção nacional portuguesa tem vivido, que se prende com falta de opções nacionais nos principais clubes, o que vai dificultar a formação de uma selecção forte e competitiva. Ingleses e italianos ficaram no grupo da morte, mas que acabou por sucumbir foram mesmo esses dois históricos, com uma surpreendente Costa Rica, na minha opinião a grande sensação do Mundial, terminando o grupo na liderança logo seguida pelo Uruguai.

 

Artigo de André Costa