O tema das promessas

Já cheira a campanha eleitoral e os pressupostos da mesma repetem-se: todos dizem que as promessas deles é que são verdadeiras e que as dos outros são falsas. Há vários anos que é assim, pelo que já devíamos estar habituados.

Mas os portugueses parecem ter memória curta – senão não tinham eleito o Prof. Cavaco 2 vezes seguidas para presidente depois do que ele fez como primeiro ministro. E, ao que parece, têm memória curta também em relação às eleições que levaram a coligação PSD/CDS ao Governo. Ainda se lembra das promessas? A maioria está em https://twitter.com/passoscoelho . Eu destaco esta:

pedropcoelho

Todos aqueles que o acompanham dirão “tudo bem, mas as condições mudaram, ele esperava encontrar o Estado numa situação e afinal estava pior”. Até posso compreender mas – pensem comigo – se assim for, que moral têm agora para criticar as promessas dos outros? A decisão de se prometer ou não prometer algo baseado nos dados que possui é de cada um. Que moral tem quem decidiu prometer e depois não cumpriu, de apontar o dedo aos outros? De coisas como estas vem a ideia que circula no eleitorado: eles são todos iguais, todos prometem, mas cumprem pouco ou nada.

Pondo de parte os partidos que nunca governaram sozinhos (porque o PCP de Álvaro Cunhal já governou – conjuntamente com outros – nos governos provisórios do pós 25 de Abril), António Costa carrega “a cruz” de ter feito parte de um governo de José Sócrates. Mas António Costa saiu desse governo para se candidatar a presidente da autarquia lisboeta em 2007, quando ainda não havia crise, o país tinha crescimento económico efectivo e apostava na modernização administrativa invejada lá fora (e premiada pela União Europeia já na actual legislatura). E se José Sócrates está preso preventivamente, acusado de corrupção, mas ainda não julgado e condenado (embora de pouco lhe valha, pois a opinião pública já o condenou pelas noticias que têm sido publicadas como alegadamente fazendo parte do processo, embora o mesmo ainda esteja em segredo de justiça), Passos é o primeiro ministro que não pagou segurança social durante vários anos (está provado que assim foi), é o primeiro ministro que nunca explicou a questão das empresas em que trabalhou enquanto era deputado e em que, alegadamente e segundo a comunicação, terá recebido remunerações e cargos que não seriam remunerados (até porque nesse período estaria em exclusividade na assembleia enquanto deputado) e é também o primeiro ministro que, enquanto líder da oposição, vetou o famoso PEC IV (as razões estão na imagem acima) e no dia seguinte foi falar com a chanceler Merkel e assegurou-lhe, diz a comunicação social, que ia cumprir o que o primeiro ministro de Portugal tinha acordado com ela (ou seja, o PEC IV). Não cumpriu, agravou-o.

A decisão de se prometer ou não prometer algo baseado nos dados que possui é de cada um. Que moral tem quem decidiu prometer e depois não cumpriu, de apontar o dedo aos outros?

Então, se pensarmos bem, que credibilidade tem um homem destes para afirmar “não votem neles, eles não vão cumprir o que prometem”? Eu não estou a querer dizer que acredito que haja políticos que nunca mentem e cumprem tudo o que prometem. Simplesmente creio que na hora de votar se deva esquecer daqueles que mais prometeram e menos cumpriram. Veja o caso de Cavaco Silva: votaram no ex-primeiro ministro com alcunha de  “pai do défice” para presidente e aí está ele, ao final do segundo mandato, como  o presidente mais gastador de todos os tempos, mesmo estando o país em tempo de crise.

Crónica de João Cerveira