Óscares 2018 – Um Ano Sem Grandes Surpresas

E assim se passou mais um período de homenagem às grandes aventuras cinematográficas do ano. A cerimónia dos 90 anos dos Óscares, cujo anfitrião foi Jimmy Kimmel (outra vez arroz?), foi moderadamente animada mas voltou a carecer de grandes momentos, à semelhança do ano passado (sem ser o final, pois claro). Num evento marcado pela expressão das ditas ”minorias” e do empowerment das mulheres como agentes de grande valor no mundo do cinema, houve pouca margem de erro para a maioria dos especialistas, com a maioria das estatuetas douradas a seguirem as tendências das anteriores cerimónias.

Fotografia: Chris Pizzello

Então vamos lá aos grandes vencedores da noite: Shape Of Water e Dunkirk foram os mais premiados com quatro e três prémios, respectivamente, dos quais destaco o melhor filme e realização para Guillermo Del Toro – já merecia! Destaque ainda para Three Billboard Outside Ebbing, Missouri, que arrecadou duas estatuetas douradas na área da actuação com Frances McDormand (Melhor Actriz Principal) e o meu favorito deste Sam Rockwell (Melhor Actor Secundário). Este foi de longe o meu filme favorito deste ano.

A última cerimónia de Daniel Day-Lewis ficou marcado por uma rara derrota na categoria de Melhor Actor Principal, com o protagonista de Phantom Thread a deixar escapar o Óscar para Gary Oldman, cuja interpretação/caracterização de Winston Churchill em The Darkest Hour é simplesmente fora do normal. Fica a faltar a Melhor Actriz Secundária… sim, adivinhou, caro leitor, foi mesmo a Allison Janney pelo seu papel em I, Tonya.

Fotografia: Reuters

Agora vamos às surpresas. Alguém reparou que o Kobe Bryant ganhou um Óscar? O KOBE BRYANT, um dos melhor jogadores da NBA de todos os tempos… com Dear Basketball, a antiga estrela dos Lakers arrebatou a estatueta para Melhor Curta-Metragem de Animação, numa produção inspirada na sua carta de despedida após o fim da sua carreira.

 

Mas há mais: Jordan Peele. Com Get Out, um dos outsiders de grande qualidade deste ano, o famoso comediante americano (que ganhou fama com a MAD TV e o Saturday Night Live) alcançou um inesperado Óscar na categoria de Melhor Argumento Original. Não pela falta de qualidade, mas pelo poderio dos filmes com que estava a competir (nos quais se incluía The Shape of Water).

Fotografia: Kevin Winter/Getty Images

E aquela máquina de disparar cachorros? (quentes, não andamos aqui a enganar ninguém). O Kimmel pode ser fraquinho, mas de vez em quando até tem algumas ideias engraçadas. E é por aí que gostaria de pegar a seguir. Como host, Jimmy Kimmel não é mau de todo, mas não justificou uma segunda presença. A cerimónia ficou muito morninha devido à disposição natural da estrela de televisão americana, cuja personalidade on-stage nem sempre é a melhor. É preciso alguém mais genuíno – e eu só queria mesmo o Jim Carrey… será pedir muito?

Então e o tom emocional e activista dos Óscares deste ano? Sim, há que falar no facto de ter existido um evento mais colorido e aberto este ano, numa tentativa de pacificar os conflitos que marcaram a agenda de Hollywood nos últimos anos. A voz feminina ergueu-se sob as palavras de Frances McDormand, que exaltou o poderio das mulheres (Time’s Up!, by the way) no cinema, num ano em que, curiosamente, ambas as categorias femininas de actuação estiveram carregadas de grande qualidade.

Hollywood fumou também o cachimbo da paz com outras situações menos confortáveis, como as questões raciais ou os erros do passado, convidando inclusive Warren Beatty e Faye Dunaway a anunciar o Óscar de Melhor Filme! Haverá melhor maneira de mostrar que o passado já lá vai? I think not. A situação proporcionou risos por toda a plateia e desta vez não houve mesmo nenhum espaço para enganos.

Uma última nota para a área da animação, onde a Disney limpou a casa, com Coco a arrebatar Melhor Filme de Animação e Melhor Música. Nada mau mesmo…

Numa cerimónia altamente previsível, fica-me o sentimento de que alguns destes nomeados ganhariam muito facilmente em outros anos (principalmente nas categorias de actuação), mesmo que, na minha opinião, não tenha sido um grande ano para o cinema americano/internacional. Resta-me dar o parabéns ao grande Guillermo Del Toro, um visionário que apela inspiração de futuros realizadores. E para os dois Óscares atribuídos ao Blade Runner 2049, quase me esquecia!

Para o ano há mais e esperemos que a cerimónia seja um bocadinho mais animada! Hasta La Vista, Baby!