O início do ano 2012 está para já a nível empresarial a ficar marcado por despedimentos e encerramento de lojas. Como todos sabem o ano comercial não termina no final do calendário comum, pelo que muitas empresas procuram através de vários cortes cumprir as margens de lucro pretendidas pelos seus accionistas.
Este mês algumas lojas Media Market e Moviflor irão encerrar, a Staples reduziu quase para metade o espaço comercial de algumas das suas lojas com menor rentabilidade, o grupo Salvador Caetano e a Unicer despediram já dezenas de empregados e, certamente, a lista de lojas a fechar ou a cortar nos recursos humanos não ficará por aqui. Comum em todos estes casos a quantidade de funcionários destas empresas, muitos deles efectivos, que passam agora a figurar nos já enorme números de desemprego e que ficarão ao encargo do Estado para a sua subsistência.
Não sei o que o ano de 2012 trará para estas e muitas empresas a operar no mercado português, mas o panorama está longe de ser bom. A Jerónimo Martins procura nesta fase desenvolver-se noutros mercados, nomeadamente o holandês e polaco, ainda que isto possa representar algumas perdas para o nosso país o facto é que este grande grupo português está a procura de alternativas para minimizar as perdas e aumentar os lucros sem sacrificar os seus empregados e a população portuguesa.
Afinal qual é a real perda que as empresas estão a ter? Muitas pequenas e médias empresas estão cada vez mais a sofrer e com dificuldades em subsistir num mercado que cada vez mais as penaliza ao beneficiar os grandes grupos comerciais. As grandes empresas na realidade sofreram também uma quebra de vendas que é generalizada, independentemente da área de negócio, no entanto, estas perdas não se reflectem na perda de lucros reais, pelo que os custos com produção e recursos humanos são mais que cobertos pelas vendas realizadas ainda que em menor quantidade que nos anos anteriores.
Para entendermos o porquê destes despedimentos e encerramentos, temos de primeiro compreender como funciona uma empresa e de onde vem o capital para que ela funcione. O financiamento de uma empresa provem de accionistas que investem o seu dinheiro no desenvolvimento e estruturação do negócio, procurando obter um retorno no final de um determinado período (normalmente um ano). Os investimentos por estes accionistas são feitos através de uma busca de lucros empresariais que se traduzem nos orçamentos e objectivos das empresas.
Então afinal o que não está a ser feito para as empresas optarem por encerrar e despedir pessoal? O que acontece é simples: os accionistas querem cada vez mais retorno pelos seus investimentos pelo que as empresas têm de aumentar os seus objectivos e orçamentos para os cumprir. Dado a actual situação financeira em que a economia global se encontra contraída e, como tal, as pessoas compram menos ou procuram comprar mais barato, as empresas passam a ter quebras nas vendas e não conseguem cumprir os objectivos propostos pela direcção geral, que por sua vez obteve esses valores a partir dos pretendidos pelos accionistas.
Ora então as empresas estão a perder ou não dinheiro? Depende, na prática os valores a entrarem nas empresas podem até ser os mesmos que em anos anteriores, em alguns casos até mesmo mais um pouco, mas se ficam aquém dos objectivos dos accionistas, então não estão a cumprir os objectivos, ainda que estejam a ter o mesmo retorno financeiro que sempre tiveram.
Parece simples? É mesmo, para alguns accionistas em todo o mundo fazerem alguns milhares (e estou a arredondar por baixo), milhões estão a perder as suas fontes de rendimento e estão a ficar nas infindáveis listas de desempregados, tornando-se um fardo cada vez maior para os governos e Estados, o que na prática se traduz em perdas para todos nós contribuintes.
Crónica de Celso Silva
Panorama
Gostei da crónica, Celso.
Mas, embora não seja um entendido na matéria, acho que actualmente essa lógica já foi subvertida e o financiamento das empresas vem cada vez mais dos bancos (sob a forma de empréstimos) do que dos accionistas. E num período de crise os bancos apertam no acesso ao crédito, as empresas deixam de ter para investir, estagnam ou retrocedem nos investimentos, deixam de necessitar de tantos funcionários, estes por sua vez ficam com menos dinheiro para gastar, mesmo retraindo o consumo, o que leva a que empresas e bancos tenham menos liquidez. Este efeito cíclico (para usar uma expressão popular, tipo “pescadinha de rabo na boca”) é a típica recessão que, quer queiramos, quer não, só é possível de colmatar com o Estado a servir como operador económico. E a mensagem que, a meu ver, o Estado Português (a par com os outros Estados Europeus) actualmente transmite às famílias e às empresas é “resolvam vocês o vosso problema, que nós estamos a resolver o nosso, sugando a vossa liquidez e poupança”. Com esta mensagem, não admira que as grandes empresas (as que podem) queiram investir a partir de outros países.
Este tema tem muito por onde se lhe pegue! Verdade é que as empresas não olham ao meio que utilizam para conseguir o lucro maximo, mas ainda há (muitissimo poucas mas há) que ainda dão beneficios, premios e outra ajuda que não financeira aos seus empregados.
Sr João Cerveira… quanto à mensagem passada pelo Estado não será de facto a mais correcta, no entanto, tudo não passa de uma questão de mentalidade. Mentalidade essa, que, também terá de ser alterada pelo proprio cidadão comum. E com isto refiro-me a que para além de direitos também têm deveres.