Para o verdadeiro amante do futebol a “nota artística” vale mais do que qualquer vitória

Que campeonato é este? Que país somos nós que nos dizemos orgulhosamente apaixonados por futebol? Temos três candidatos pelo seu passado, mas um que, neste momento, é mais do que todos os outros…o Benfica de Jorge Jesus! Sim, o mesmo Benfica que muitos têm criticado pelo pouco que ganhou, pelo que perdeu e, sobretudo, pela forma como perdeu. Esse foco prende-se, e a cada época que passa, pelo facto de ser, (excepção feita ao ano louco de Vilas Boas no FC Porto) irrevogavelmente, a equipa em Portugal que mais prazer dá em ver jogar.

O Benfica de Jorge Jesus sempre me encheu as medidas, sempre me deu prazer em ver jogar. Até mesmo quando perdeu, perdeu a jogar futebol de grande qualidade, sempre com a tão falada “nota artística”, fruto de um plantel sempre com grandes jogadores, trabalhados ao mais alto nível pelo seu técnico. Jorge Jesus é, sem dúvida, o treinador que melhor partido tira das características dos seus jogadores e transforma o futebol encarnado num espectáculo digno desse nome como não há igual em Portugal e pouco se vê no resto do mundo. Sigo de perto todas as grandes ligas (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália) e acompanho um pouco por fora as outras que vêm a seguir (Holanda, França, Rússia, Brasil, Argentina) e dificilmente vejo uma equipa capaz de me entusiasmar com o seu futebol ofensivo durante os 90 minutos.

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É certo que o melhor que conseguiu foi um título de Campeão Nacional (Taças da Liga deixo de parte), mas não tenho dúvidas que Jorge Jesus tem tudo para conquistar mais troféus em qualquer outra equipa e até mesmo ainda no Benfica. Venceu a Intertoto pelo Braga, numa altura em que os minhotos estavam a crescer a bons olhos no nosso futebol (pela mão de Jesualdo Ferreira). Levou os bracarenses a quarta potência em Portugal e abriu portas a outros colegas que por lá passaram. Sim, comunicar nunca foi, não é, nem nunca será o seu forte. Talvez por isso os grandes títulos tardem em aparecer, porque no futebol e cada vez mais, a comunicação e os meios de motivação são importantes e decisivos. Mas no que toca à verdadeira essência do futebol, daquele desporto que desde cedo me fez apaixonar e vibrar como nenhum outro, Jorge Jesus é mestre. Ainda há pouco tempo tive a oportunidade (feliz) de conversar com Cândido Costa, que em tempos foi treinado por JJ, mas antes disso já havia sido orientado por… José Mourinho!!! Quando lhe perguntei qual deles o melhor, a resposta que obtive defende a minha ideia: “No papel e em termos práticos de pôr uma equipa a jogar futebol o Jorge Jesus é melhor. Mas Mourinho é o melhor a motivar uma equipa e a tirar-nos a pressão dos ombros. Com ele qualquer jogador jogava melhor”. Mais do que outro clube, o Benfica valoriza um bom espectáculo, perdendo, empatando ou ganhando, o bom futebol está lá, a qualidade e a entrega estão sempre presentes. Por isso mesmo custa mais olhar para a época passada, lembrarmo-nos de todo o percurso das águias e ver que o clube nada conquistou…

É um contra-senso daquilo que é o futebol de hoje com o que se passava antigamente, e este antigamente não está assim tão longe. Mas quando ouço algumas criticas ao treinador que coloca a sua equipa a praticar o melhor futebol do país e dos melhores a nível mundial, desde que assumiu o comando do Benfica, isso deixa-me a pensar se realmente as pessoas gostam mesmo de futebol. Ou se apenas gostam de ganhar coisas no futebol, ou que a sua equipa vença troféus no futebol. Mas isso não é paixão pelo desporto rei, não é de alguém que se possa dizer amante do futebol… A isso chamo “clubismo”, gostar única e exclusivamente que o seu clube vença. E muita gente confunde uma coisa com a outra, mas são definições bem diferentes. Por isso posso dizer sem qualquer tipo de problema e, independentemente da minha cor clubista, que sei apreciar bom futebol, sei ver quem o pratica melhor e consigo gostar de ver bom futebol seja ele praticado por Benfica, FC Porto, Sporting, Braga, Belenenses, Rio Tinto, ou seja lá qual for o emblema… Sei e gosto de desfrutar deste desporto que tantas alegrias dá… a quem ganha!!!

Artigo de André Costa