Por Paris, pela França e pelo Mundo – 13 de Novembro de 2015

Escrevo em silêncio. Sem música. Sem televisões. Sem internet. Estou de luto por Paris, pela França, pelo Mundo.

Na noite de 13 de Novembro de 2015, o mundo perdeu mais de 200 vidas e cerca de 300 estão feridas. Parisienses. Que aproveitavam o início de mais um fim-de-semana. Que viviam as suas vidas, com os seus entes queridos. E eu nem quis acreditar. Pareceu-me surreal. Um filme. Eu não queria acreditar que o mundo tinha chegado a isto. Fui consumida por aquilo que condeno: só quando chega perto da nossa porta é que abrimos a pestana! Tomei consciência da urgência que é separar as águas entre o que é bom e o que é mau, e que um atentado em Paris vale tanto como os atentados diários em Gaza ou Tripoli.

O autoproclamado Estado Islâmico (ISIS) não tem limites. Já nos tínhamos apercebido disso na Síria e no Iraque. Na Turquia, no Líbano e no Kuwait. Em Paris, nos meses de Janeiro e Junho de 2015. Um pouco por todo o mundo, o ISIS tem tentado marcar uma posição. E, a meu ver, tem sido a única facção desta guerra sem dono a fazê-lo. A comunidade internacional contínua imóvel. Sem reacção.

Desde 2013 que estudo o Médio Oriente e o Norte de África. As políticas, as economias, as sociedades, as culturas, as religiões. A região fascina-me pela sua história milenar e pela sua cultura. Pela sua dedicação à religião. Isto porque não existem muçulmanos praticantes ou não praticantes. Acredito que, para pertencermos verdadeiramente a algo, é preciso fazê-lo por inteiro. Sou baptizada porque não tive opção de escolha. Mas não acredito em Deus. Desde pequena que não acredito. E como tal, os meus pais respeitaram a minha opção e não me inscreveram na catequese. Não sei rezar. O que aprendi sobre o cristianismo devo-o aos livros. Mas compreendo e admiro quem tem uma fé inabalável e se refugia numa figura mítica.

Já dizia Napoleão Bonaparte, “religious wars are basically people killing each other over who has the better imaginary friend[1]. A religião já não é só religião. Assim como a política já não se trata apenas de política. É um jogo de interesses, superior a qualquer um de nós, a qualquer Estado. Rege-se por leis que se adaptam aos próprios interesses e tem em vista apenas uma coisa: encher os bolsos de uns, facilitando a vida a outros. Pelo caminho ficam os peões.

Paris

Paris é hoje a capital do terror. Está pintada de vermelho. Não faço ideia o que é sentir este tipo de insegurança e de medo, mas alerto para um ponto: é disto que fogem os refugiados. É disto que eles têm medo. Pavor. De bombas sem destino, tiroteios diários, raptos, sequestros e violações. Se vêm terroristas nas vagas de migrantes? De certeza que sim. Mas não somos tomos farinha do mesmo saco. Não somos todos iguais. O radicalismo islâmico não é sinónimo de se ser muçulmano. A imagem que temos de um Buda não é aquilo que representa o extremismo budista na Birmânia (antigo Myanmar).

Ninguém é melhor que ninguém. Nenhum Deus é melhor que o outro. E, não sendo eu crente, atrevo-me a dizer que Maomé do islamismo, Jesus Cristo do cristianismo, Buda do budismo, Moisés do judaísmo, Brama do hinduísmo, os Kami do xintoísmo, o Guru Nanak do siquismo ou Mahavira do jainismo, entre tantos outros, condenam qualquer atentado à vida ou integridade física em nome da religião. Condenam intolerâncias e desrespeito. E unem-se todos sob o lema “somos todos irmãos”.

Resta-me lamentar, entre tantas outras, a morte de dois portugueses, o desaparecimento de uma portuguesa e os ferimentos de, pelo menos, mais dois compatriotas. Os meus pensamentos estão com as suas famílias e amigos.

Que o mundo tenha aprendido. A solução não está em fechar fronteiras, recusar asilo ou ajuda. Não está no racismo ou na xenofobia. A solução está, como defendo hoje e defenderei sempre, na educação, no respeito e na tolerância. Só vivemos uma vez, só temos um planeta. Destruí-lo não resolve nada. Desrespeitarmo-nos mutuamente também não.

 

[1] As guerras religiosas são, basicamente, pessoas a matar pessoas para ver quem tem o melhor amigo imaginário [Deus] – tradução livre.