Quando cai a Chuva na Cidade! – Patrícia Marques

A chuva decorre pelos nossos dias, como um céu que vai chorando as lágrimas de um Portugal mais dolorido. Guarda-chuvas acotovelam-se todos os dias, e os pensamentos fugazes e profundos fazem prosperar nas mentalidades dos demais. A vida faz sentido quando nos aproximamos da felicidade genuína; e perdoem-me se utilizo a palavra genuína, mas é que falo daquela felicidade que dilui tudo o que há de negativo no pensamento e nos trás a verdade do sorriso.

A chuva faz-se sentir por entre os corações deslumbrados, e a pele já ressente o regelo das pingas que sobraram para cada qual. É o mesmo deslumbramento que do lado interior conseguimos observar: chuva que cai, sons de água que caem nas poças de reflexos de rostos sisudos, ou simplesmente aguados de dores ultrapassadas pelo tempo e que ainda caem no pensamento como resina.

Da janela, pássaros que se vêm enxugar, sacudindo das suas penas a sujidade do mundo. Pássaros que saltitam e parecem rezingar por um sol que ainda não apareceu. Depois de pássaros, os poemas. Poemas sinceros que vêm falar de liberdade que não se quer acabar, nem tão pouco se esgotar em si mesma. Chuva de poetas:

Chuva, caindo tão mansa,

Na paisagem do momento,

Trazes mais esta lembrança

De profundo isolamento.

Chuva, caindo em silêncio

Na tarde, sem claridade…

A meu sonhar d’hoje, vence-o

Uma infinita saudade.

 

Chuva, caindo tão mansa,

Em branda serenidade.

Hoje minh’alma descansa.

— Que perfeita intimidade!…

(escrito por Francisco Bugalho)

Quem sou eu? O que faço? Para onde vou? Hã…os problemas existenciais do costume! Falar, é falar com humor e de humor! Chuva…Pássaros e poemas!

Contam-se histórias à lareira, de onde as famílias estão acolhidas no abrigo apelidado de amor; e a chuva vai servindo de elemento apaziguador, de um som refinado que se embrulha de quando a quando em silêncio. Às vezes procuro entender, serão a chuva e o sol amigos felizes, capazes de se compreenderem mutuamente, quando por sinal, querem servir o mundo? Será que o sol insiste para ficar e a chuva intriga-se com aquela insistência; ou será ao contrário. Eu sei, é tudo uma questão meteorológica, para quê tanta asneira dita aqui como essência, em meras suposições?

É uma questão de felicidade. É uma questão de ‘problem maker’ – ‘problem ask’ – ‘problem solver’. É uma questão de gestão de emoções no local de trabalho. Por isso eu insisto nesta verdade, de que a chuva e o sol são poetizados para dar um pouco mais de valor ao trabalho realizado na dualidade: razão – emoção – valores e um trabalho que se permite à gestão integrada não só destes fatores como de todos os condicionantes que nos envolvem e envolvem o produto do trabalho propriamente dito.

Levanto-me, e lá fora parou de chover. Vejo somente as gotas esquecidas no vidro da janela, dizendo apenas que a chuva foi mas já volta.

 

Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol
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