Quando nada há para falar…

Hoje sinto-me como o Jorge Palma, naquela canção “tenho uma página em branco…”. Os assuntos da atualidade são pouco interessantes e estimulantes e toda a gente fala deles.

E quanto ao assunto mais interessante desta semana – a confirmação da Liga para o Benfica – estou a tentar resistir para não falar sobre ele neste momento, querendo aguardar para eventuais outras conquistas do emblema esta época e aí sim, fazer uma análise mais pormenorizada.

Quanto à execução orçamental do primeiro trimestre de 2014 e o respetivo défice e dívida pública, também não me apetece falar, pois esse assunto já aborrece, já não atrai a atenção de ninguém, ou seja, já ninguém pode ouvir falar disso!

Que outros assuntos me restam? A constante correria de Durão Barroso em eventos pelo nosso país, com o intuito de obter o perdão dos portugueses pela sua rápida fuga de há uns anos atrás para Bruxelas? Hum… não me cheira.

Também poderia falar sobre a liberdade, a revolução, a democracia que nos trouxe o 25 de abril de 74, numa altura em que “abril” ainda se escrevia com maiúsculas… mas disso já falei e, de verdade, já aborrece também tanta conversa acerca de um assunto já mais do que batido.

Assim, resolvi não falar nada, porque quando não há assunto, nada melhor temos a fazer do que ficarmos calados! Ora aí está um assunto interessante para se falar: o poder de contenção que muitos dos intervenientes públicos deveriam ter quando vêm à praça pública. Muitas vezes, nada têm a dizer, apenas repetir a cassete que sempre usam nas suas normais intervenções. Ora vejamos os políticos: os da oposição, encontram sempre algum argumento para dizer mal do governo e os da maioria, encontram sempre algo para dizer que defenda o governo e os resultados das suas políticas. As entrevistas do primeiro ministro, por exemplo, não trazem nada de novo, nenhuma novidade, apenas mais do mesmo. Vejamos também as conferências de imprensa dos treinadores de futebol: quase se poderiam utilizar as cassetes de vídeo de uns jogos para ou outros, porque o que dizem é sempre a mesma coisa, utilizando o mesmo vocabulário, apenas o que muda é o adversário e, até esse… nem sempre, porque há clubes que atuam sempre da mesma maneira, independentemente do adversário que tiverem pela frente.

Tudo isto, penso eu, é devido à grande proliferação de empresas de media e comunicação social, nomeadamente jornais, rádios e televisões que, por um lado é bom porque dão trabalho a muitas pessoas da área, mas por outro, corremos o risco de presenciar as mesmas notícias em quase todos os noticiários. Hoje em dia, quando ligamos a televisão  às oito da noite, nos canais generalistas de sinal aberto, quase não conseguimos diferenciar em que televisão estamos sintonizados, porque à parte o estilo de apresentação do(a) pivot, tudo o resto é praticamente igual. Nesse particular, é de enaltecer o jornalismo de investigação inovador, que procura mostrar aos espetadores reportagens inovadoras de assuntos novos ou apreciados de uma outra forma, contrária à visão normal. Mesmo assim, muitos assuntos já demasiado falados e que aborrecem as pessoas aparecem muitas vezes à baila.

Assim sendo, o que há a analisar sobre este assunto “tenho uma página em branco”, é que isso acontece com muito boa gente, que na altura em que deverão ter alguma coisa para dizer, o que é facto é que nada têm de novo, por isso, optam muitas vezes por voltar ao “velho” e revesti-lo com uma nova roupagem ou mostrá-lo de cara lavada, tentando com isso demonstrar alguma novidade ou inovação, mas que para pessoas mais atentas, não passa.

Por isso existe o verbo “divagar”, para utilizar quando nada se tem a dizer, mas que por obrigação ou vontade se tem que dizer alguma coisa.

E com isto, tenho dito, o que já não é pouco e foi-se apresentando de forma diferente… 😉

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro