Quebec: em nome do “défice zero”

A província canadiana do Quebec continuará em austeridade financeira. De acordo com as palavras do primeiro-ministro da província francófona do Canadá, o federalista e liberal Philippe Couillard , “o estado pode ainda emagrecer mais”, o que advoga mais um ano de ajustamento orçamental para uma das regiões mais prósperas do mundo inteiro.

No dia em que assinalou um ano à frente do executivo do Quebec (7 de Abril), Couillard, eleito pelo Partido Liberal, defendeu que é “sempre possível fazer mais e melhor”, no que diz respeito à gestão dos recursos financeiros do erário público do Quebec, província mais populosa do Canadá, assumindo assim a vontade do seu governo em atingir o “défice zero”, ou seja, o pleno equilíbrio orçamental. Algo necessário para que a qualidade dos serviços públicos não seja afetada, pois segundo o primeiro-ministro quebequense o “erro mais grave seria regressar ao estado de endividamento crónico de que o Quebec sempre padeceu”.

A oposição, em bloco, incluindo o Partido do Quebec, o qual defende a independência do território face ao Canadá, tem contestado a austeridade imposta pelo executivo, lamentando a falta de empenho em impedir o aumento das tarifas de eletricidade e propinas escolares, para além de um desagrado da coligação Avenir Quevec para com a pretensa desconexão entre os vários membros do governo quebequense. A oposição mais à esquerda defende também a ideia de que o governo de Couillard é, no plano fiscal, o mais conservador alguma vez visto na província, para além de estar muito “encostado à direita”, isto de acordo com a opinião da esquerda.

Finanças à parte, o Quebec aguarda ainda “a luz do dia” para uma nova lei sobre o asilo, que terá em simultâneo outras leis, tidas como complementares pelo governo em funções, por aprovar no parlamento quebequense, acerca da política de imigração e neutralidade religiosa da província. Sobre isto, o Partido do Quebec afirma que o governo é pouco firme na defesa da identidade e valores do povo quebequense.

O federalismo é o traço que melhor define a política do governo do Quebec neste último ano: um continuado apaziguamento do discurso de pendor nacionalista, e ingresso a um ideário mais federalista. No referendo de 1995, 50,58% dos eleitores votaram NON e 49,42% preferiram votar OUI à separação do Quebec em relação ao Canadá. Esta divisão, histórica no âmago dos quebequenses, não foi aproveitada da melhor forma pela líder do Partido do Quebec Pauline Marois, antecessora de Couillard no governo da província, pois apesar de ter mesmo lançado a ideia de um novo referendo à autodeterminação do Quebec, território do Canadá (país independente, membro do G8 e com regime de monarquia constitucional mas que deve obediência a Elizabeth II, Rainha do Reino Unido e de outros 15 estados pertencentes à Commonwealth, devido ao Estatuto de Westminster de 1931, e ao Canada Act de 1982) e isso não foi o suficiente para garantir a vitória nas eleições do ano passado, tendo perdido para Philippe Couillard o lugar da chefia de governo.