Repto da “Madalena” nada arrependida.

Depois de arrumar as malas e voltar a vestir o coração, aquele que se quis nu durante tempo demais, deu-se o retrocesso do reencontro.

Estar com ele era de palpitar cada veia, mesmo que as palpitações ainda não tivessem um nome adquirido; mágoa, vontade, saudade doente, ou simplesmente tristeza.

Existem pessoas que nos retiram da nossa essência, e que a seu tempo nos tornam suas, à sua medida e feição, ao seu tamanho e cor, como uma fotografia alterada de quem fez um click no “save”. Depois de guardar, nada a fazer.

E por meses e meses ela cedeu à estranha metamorfose e foi encontrando pelo caminho espelhos partidos, que denunciavam uma imagem outrora completa e livre de estilhaços, uma imagem que ficaria marcada para sempre, mas que um dia tinha sido mais nítida do que água.

As entranhas não mudam. Como moldar alguém tão livre de pensamento e tão promiscuamente presente, alguém que ama sem filtragem e deseja ver o mundo já? Agora! Já!

Na impossibilidade, surge uma moldagem escura, de quem nos toma na mão e devagarinho nos leva onde deseja, a lugares “nossos”, coisas “nossas”, futuros “nossos”… ideias dele. E ela foi ficando pequena, ainda que o seu tamanho ditasse que seria gigante, que um dia seria maior, foi ficando pequena.

Qual amor cego, qual quê…fragilidade. Ela não era frágil, mas encontrou-se lá. E qual predador assertivo na sua busca, ele alcançou a fraqueza e o seu estado de emoção, visto serem essas as metas mais perto; muito mais perto do que conseguir atingir o seu estado pleno, esse seria demais.

Enxovalhada pelas suas escolhas, passou pela fase de Madalena e levou com uns quantos calhaus, servindo as marcas de avisos futuros, deixando na pele o medo da reincidência. Mais tarde, recuperando algumas pessoas pelo caminho, buscou o perdão de quem lhe quis bem, o perdão relativo à sua ausência, à sua “morte”, pois a sua vida preenchia também a de outros.

O grande repto será voltar a si. E como se volta a nós mesmos, quando alguém tirou um pedaço? Quando as coisas que fazíamos pareciam ter vida e de repente a nossa costela crítica dispara para todo o lado, contrariando a nossa cabeça?

Como voltar, se as pessoas nos cheiram a possíveis erros, e as situações são medidas desenfreadamente em prós e contras, em vantagens ou erros, em viagens ao passado e não jornadas ao futuro?

E de coração novamente vestido, ainda que com trapos e farrapos, ela segue na viagem certa, com as dúvidas erradas, e de alma meia zonza; pois a vida segue em frente e o Mundo que ela quer ver ainda está por aí… ou assim ela quer acreditar.

(Obrigada Paloma, pela inspiração. “Only love can hurt like this.”)