Sapateiros e alfaiates é que trabalham por medida

Trabalhar por encomenda, só com os restaurantes onde funciona o takeaway ou com um serviço de entrega de compras ao domicílio. Não gosto de ouvir falar de resultados encomendados no futebol, e muito menos de leis encomendadas por quem tenha a ganhar com elas.

Fazer leis à medida de cada um, como quem cose as linhas com que se faz uma fatiota, é feio, revela mau perder e abre daqui para a frente o perigoso precedente de virem outros a querer fazer a mesmíssima coisa, e além disso significa a meio duma partida manipular as regras do jogo a nosso favor.

Tem tudo a ver com o projecto de votar uma lei destinada a impedir que na jurisdição das Câmaras Municipais, estas possam vetar a realização de projetos considerados de interesse nacional. A proposta vai ser apresentada pelo PS, mas já tem o aval de Rui Rio que se disponibilizou para votar favoravelmente. Por este andar, ainda há querer aprovar uma alteração legislativa para ser vencedor das eleições o 4º ou 5º Partido mais votado, pelo facto de ter um dia feito muita gente acreditar que sendo ele a governar as coisas seriam diferentes para melhor.

O objetivo claro desta lei é possibilitar a construção do aeroporto no Montijo, contornando a atual lei que o impede bastando que um dos municípios da região se oponha. Uma lei à medida dos beneficiários da obra e não da população local que verá diminuir a qualidade de vida ao ritmo do número de aviões que vierem a cruzar os céus.

Até José Sócrates se pronunciou contra, dizendo que aquela não é a melhor localização e a escolha fundamentou-se em interesses que lesam o Estado. E acreditem que ele sabe do que fala. Em matéria de favorecimento, troca de favores, interesses obscuros, etc e tal, ele não recebe lições nem de quem não anda na política há dois dias. Não precisou dum mestrado na arte de iludir os portugueses, bastou ter passado com distinção num exame do curso de Engenharia feito ao domingo.

Felizmente, não precisa de ajudas do nosso PM, mas por falar em ex-altas figuras do Estado, se o Governo quiser ajudar uma é fácil: descriminalizem os crimes de denegação de justiça, prevaricação, abuso de poder e favorecimento de que é acusado o ex-ministro do caso Tancos-armas sumidas, Azeredo Lopes.

Sapateiros e alfaiates é que trabalham por medida, à medida de cada cliente e não governantes para não ser acusados de servir clientelas. Tenho para mim, que o nosso Primeiro-ministro não é um sapateiro. Nas duas profissões trabalha-se por medida, mas para mim é um alfaiate e ponto.