Se isto fosse um país a sério… – Bruno Neves

Foi em Portugal que nasci e por muitas voltas que a vida dê, não me vejo a morrer noutro país que não aqui (sim, estou a ser optimista e a partir do principio de que morrerei velhinho rodeado pelos filhos, netos e restantes familiares e de causas naturais, não sejam indelicados e não estraguem a cena, ok?).  Sinto-me português, vivo e transpiro portugalidade por todos os poros, mas isso não quer dizer que aceite tudo o que é feito neste cantinho há beira-mar plantado. Sempre nos faltou coragem, enquanto povo e não individualmente digo, e a pouca que tínhamos deve de ter-se perdido no caminho marítimo para a India.

Não consigo aceitar que casos políticos não sejam investigados a fundo e que os culpados não sejam punidos exemplarmente. Como pode o Ministro Miguel Relvas safar-se casos após caso, polémica após polémica? (Vá, ataquem-me lá por não referir casos de outros partidos vá……já me chamaram os nomes que queriam? Ainda bem, vamos continuar então) Neste país ainda reina a ideia de que o supremo objectivo de vida é possuir um canudo, é concluir uma licenciatura. Muito boa gente ainda pensa que ter uma licenciatura é um livre-trânsito para arranjar um emprego estável e seguro. E quando o exemplo de que vem de cima é tão medíocre e chocante como este do Ministro Relvas, obviamente que toda uma população se julga no direito de fazer mil vezes pior. E com razão, porque se eles podem, porque não podemos nós fazer igual ou ainda pior?

Na justiça portuguesa é fácil de encontrar casos que nos façam matutar se o crime vale ou não realmente a pena. É cada vez mais evidente que existem efectivamente dois tipos de justiça: a de quem tem posses e pode envolver-se em disputas judiciais que duram décadas, e a de quem não tem recursos para tais aventuras. Diariamente são dezenas os casos de criminosos de todas as espécies e feitios que apesar de terem sido apanhados em flagrante, ou de existirem testemunhos ou provas substanciais acabam por ser libertados ou condenados apenas com um termo de identidade e residência. E também são públicos diversos casos de condenações injustas ou sem sentido. É certo que também existem casos exemplarmente bem conduzidos e julgados, pena, é serem uma minoria.

Este país vive em ciclos de três meses: quer politicamente, quer judicialmente, de três em três meses aparece um novo “caso”, uma nova polémica que faz capas de jornais e tem direito a tempo de antena na televisão. Passados três meses aparece outro caso, outro escândalo, com outros protagonistas, que vem usurpar a atenção de tudo e todos. Os casos sucedem-se e na esmagadora maioria das vezes acabam esquecidos quando ainda estão por resolver, o que só vem provar que neste país nos falta coragem. Podemos ter todas as provas necessárias, mas inexplicavelmente o caso morre antes da sua conclusão. Falta sempre qualquer coisa, e por mais ínfima que seja acaba sempre por tornar-se num obstáculo intransponível.

Só vos digo que se isto fosse um país a sério não ficava assim!


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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