– Pedro, estou grávida!
– Quem é o pai?
– Como quem é o pai? Estás a brincar comigo? És tu claro!
– Eu é que te pergunto se estás a brincar comigo! Tens sexo com montes de gajos como podes ter a certeza que eu sou o pai?
– Eu sempre usei preservativo menos contigo! Tu sabes, já tínhamos falado nisso!
– Eu não quero saber dessa merda para nada! Só podes ser uma vaca doida para pensares que alguma vez teria um filho contigo! Desaparece da minha frente! Isto nunca daria certo! Segue a tua vida que eu sigo a minha!
Fraquejei com estas palavras tão amargas vindo da pessoa de quem estava completamente apaixonada! Fiquei sem reacção!
Entrei na clínica para fazer um aborto. A Kelly tinha vindo comigo. Eu odiava-me naquele momento. Jamais olharia para o meu Deus de frente de tanta culpa que sentia. Mas que espécie de mulher era eu que estava a tirara a oportunidade a uma criança de viver? Que bicho é que me tornei no momento em que o medico fez o procedimento? Era uma vaca que não valia nada, que se tinha apaixonado por um homem que não sentia o mesmo que eu.
Quando saí da clínica, a Kelly levou-me para um apartamento hotel que aluguei pela Internet. Ficaria por lá uns tempos até recuperar fisicamente e mentalmente. Queria estar sozinha e assim estive quase um mês e meio. Chorei tudo o que havia para chorar, pensei em tudo o que havia para pensar, orei tudo o que havia para orar. Eu era uma ressacada da paixão pelo Pedro, eu estava em convalescença total por ele.
Regressei. Agora sim, seria temporário. Tracei um objectivo na minha vida, mais um ano como prostituta e depois iria para Inglaterra terminar os estudos, num curso de Turismo talvez.
O Pedro não estava na casa nem estaria nos próximos meses e ainda bem que assim foi.
– Tive um convite de um cliente para sair…que achas Kelly?
– Vai em frente, Mariana. Você já sabe a minha opinião , garota! Este ultimo ano foi complicado para você, está na hora de aproveitar um pouco, não acha querida?
Saí com o Bruno nessa noite. O Bruno era um cliente recente, tinha 32 anos, era alto e mulato, como tinha um problema com o seu pénis recorria a prostitutas. Jantamos pizza na Ribeira, bebemos um copo num bar no cais de Gaia. Era Primavera, a minha estação preferida do ano, e eu sentia-me bem e de paz comigo mesma.
Começamos a namorar, ele ofereceu-me uma aliança e pediu-me em namoro, como os miúdos do liceu fazem. Eu adorei e aceitei o pedido claro!
Num Domingo quente de Junho, estava no shopping a passear com o Bruno, a rir às gargalhadas com a historia que ele me estava a contar quando olhei para a frente e vi-o. Vi o Pedro, vestido de fato, com o cabelo mais comprido e de barba curta. A seu lado estava uma mulher grávida. Parei, tentei disfarçar mas não consegui a cem por cento. Ele também parou, e olhou fixamente para mim e para o Bruno. O Pedro com uma mulher gravida? Uau! Pedi ao Bruno para sairmos rapidamente dali que estava a ficar indisposta.
O Bruno deixou-me à porta de casa. Entrei para o meu quarto e enrolei-me nos cobertores juntamente com a minha magoa e frustração. Uau! O Pedro ia ser pai! Magoava só de pensar. Porquê ela? Porquê não eu? Enxaguo as lágrimas uma a uma, assim como os flashs dos momentos que estive com ele um a um.
Passaram cinco meses e ao completarmos seis meses de namoro, o Bruno pediu-me em casamento. Aceitei, agora sim seria só dele. Iríamos para Inglaterra, abrir um pequeno negocio e concentrar-me no meu curso.
– Olá Mariana, como estás?
Aquela voz não me era desconhecida. só podia ser ele!
– Olá Pedro. Estou bem e tu? Respondi sem sorrir.
– Os meus parabéns pelo teu casamento.
– Obrigada. Agora tenho de ir.
– Espera…eu…eu queria…
Esperei que falasse.
– Eu tenho muitas saudades tuas! Desculpa pelo que te fiz, pela forma como te tratei, eu fiquei com medo, não estava preparado para tudo aquilo…tenho sofrido muito. Quero-te de volta! Tu és a mulher com quem quero estar!
– Pedro, tu seguiste a tua vida e eu segui a minha. Recordas-te? Eu estou muito feliz, se tu não estás o problema é teu! Sabes o que é mais engraçado nesta historia? Quando te conheci eras um gigante mas agora és do tamanho de uma ervilha.
Eu sou a Mariana, tenho 27 anos e sou prostituta. Actualmente não ambiciono nada. Tudo o que eu desejava em miúda não se realizou. Sou prostituta mas sou humana, feita de pele, músculos, ossos e sentimentos. Uma mulher nunca esquece as suas paixões , mas é sempre um grande amor que todas nós queremos.
Fim
–
Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense
🙁 acabou.adorei.:)
Infelizmente é uma historia que se repete ano após ano, década após década e para todo o sempre. Chama-se a isto “sobrevivência”. Curioso aqui é o facto de que os homens com muitas mulheres são “garanhões” e mulheres com muitos parceiros são “prostitutas”. Há quem o faça por gosto, outras por necessidade.
A vida da mulher já é complicada pela sua condição feminina a ajuntar a isto, toda as complicações que a própria vida lhes trás e as enrola. No caso desta historia, verdade em milhentos casos, foi levada pela garantia de dinheiro fácil. Culpa-se os homens que gostam de experimentar sem ter responsabilidade nas ações, culpa-se a sociedade que nos impede, a nós homens, de ter mais que uma mulher a quem possamos estar legalmente juntos. Como invejo os árabes nesta situação… Como invejo o Haffner da Playboy…
Gostei muito da crónica, estava muito realista e fez me mesmo sentir emoção provocada pela cronista ao escrever esta obra de arte!