Suicide Squad (Review)

A DC decidiu que os vilões deviam fazer alguma coisa de útil, estabelecendo o contraste com décadas de filmes de super-heróis. Mas será que esta aposta é a salvação do universo da companhia no grande ecrã?

suicide-squad-movie-2016-poster

 

Título Original: Suicide Squad

Ano: 2016

Realizador: David Ayer

Produção: Charles Roven, Richard Suckle, Andy Horwitz

Argumento: David Ayer

Actores:  Will Smith, Jared Leto, Margot Robbie

Música: Steven Price

Género: Acção, Aventura, Comédia

Ficha Técnica Completa

 

 

 

Não tive a oportunidade de ver Batman vs Superman: O Despertar da Justiça (2016) nos cinemas, mas vi o filme à pouco tempo na sua versão alargada. A qualidade do filme é mediana e o último acto deixa alguma coisa a desejar, não propriamente pelo problemas que muitos apontam ao nome Martha, mas sim porque se torna no cliché típico dos “heróis que se odeiam mas são obrigados a unir forças, porque há um problema maior.” Para Suicide Squad tinha outra expectativa, até porque o seu realizador é o homem por detrás de Fúria, filme que analisei, um dos grandes filmes de Segunda Guerra Mundial dos últimos anos!

O grupo de vilões improvável é também um lado menos conhecido, para um leitor casual da DC, tal como seriam os Guardiões da Galáxia de 2014, antes do enorme sucesso que conseguiram com o seu próprio filme. Suicide Squad é um grupo de elite militar transformado, ao longo dos anos, num aglomerado de vilões e outros vigilantes menos conhecidos, muitas vezes encarregados de controlar os seus companheiros de equipa e a sua chegada ao grande ecrã podia muito bem representar uma mudança necessária na oferta, já demasiado excessiva em super heróis e claro, dar um novo rumo que a DC precisava desde The Dark Knight Rises (2012).

Os primeiros quinze minutos de filme parecem um bom arranque, com a apresentação das personagens que compõem esta equipa improvável e com grande destaque para os dois vilões que dão a cara por todo o grupo, Deadshot (Will Smith) e Harley Quinn (Margot Robbie). Usando uma estratégia visual inspirada numa acid trip dos anos 80 com algum punk, não há melhor maneira de apresentar as personagens enquanto outras mais icónicas se interligam com as suas histórias, desde Joker, a Batman e também a Flash. Estes primeiros minutos são talvez a melhor parte do filme, isto porque com o desvendar da fita torna-se cada vez mais claro que a estrutura narrativa está a desabar, mantendo-se colada por algumas interpretações individuais e alguns, mas poucos, momentos de humor e lucidez, que vão mantendo o filme à tona.

Num filme cheio de vilões obrigados a ser bons da fita, o verdadeiro vilão e vilã, passam completamente ao lado pela incapacidade de mostrar relevância para a história. Enchantress (Cara Delevingne) parece de início uma personagem com espaço para se desenvolver, mas perde toda a sua complexidade a partir do momento em que se transforma numa qualquer deusa maia, ou será azteca, que através de pobres efeitos especiais ou má escolha artística é uma das vilãs principais mais estranhas de todos os tempos. Num filme onde os vilões são heróis era possível ter ganho alguns pontos se houvesse, efectivamente, uma inversão de papeis. Por exemplo, usar esta nova perspectiva mais humana das forças do mal, para forçar a audiência a questionar as acções dos seus heróis favoritos, ou até um daqueles plot twists onde as forças do bem atraiçoam os vilões feitos heróis, o que poderia muito bem resultar quando o filme tem uma personagem tão bem trabalhada como Amanda Waller (Viola Davis).

A interpretação de Joker de Jared Leto é também uma das piores abordagens à personagem que alguma vez vi em cinema e embora o actor tenha protagonizado alguns dos momentos mais estranhos, por detrás das cenas, isso deve ter ficado por lá, pois na fita traduz-se apenas numa interpretação over the top, que não dignifica a personagem. Se a caracterização já tinha de certo modo causado alguma desconfiança, este Joker é sem duvida um total desapontamento, que infelizmente não parece ter qualquer ponto de retorno, mesmo que incluam os minutos de cenas cortadas com Leto num futuro lançamento. É certo que temos bastantes interpretações de Joker que nos criam expectativa, mas o problema não é a diferença que Leto representa, mas sim a qualidade que nos apresenta.

5414182Os únicos actores que de facto têm a possibilidade de brilhar são Will Smith (embora pareça sempre que Will Smith faz efectivamente de Will Smith em qualquer filme) e Margot Robbie, com alguns bons momentos de outros actores que vivem na sua sombra e na sua falta de complexidade. Killer Croc (Adewale Akinnuoye-Agbaje) e Diablo (Jay Hernandez) são talvez aqueles que mais se vão destacando, enquanto tentam abrir a barreira que os separa do protagonismo, numa equipa que devia balançar-se, mas acaba por se desequilibrar mais cedo do que seria expectável.

Se há realmente uma interpretação que se destaca no filme, é a de Margot Robbie. E esta interpretação ainda se torna mais perfeita quando percebemos que a sua personagem tinha intuito claramente sexual e isso é evidente na maneira como a personagem é construída visualmente. Sabemos que Harley Quinn vive numa espécie de síndrome de Estocolmo, em relação a Joker e é totalmente submissa ao vilão. No entanto, a personagem nunca tinha sofrido de uma sexualização visual tão profunda, até possivelmente à saga de videojogos de Arkham. Em Suicide Squad, é evidente que a escolha de vestimenta de Harley quer despertar algo à audiência e sim nós sabemos que Margot Robbie é bastante sexy, mas mesmo nesta aparente objectivação a actriz consegue brilhar e é, com certeza, mais Harley Quinn, do que Leto é Joker, sendo de louvar que se tenha destacado pela positiva no aglomerado de problemas que o filme tem.

Com uma banda sonora variada cheia de clássicos de vários géneros e épocas, Suicide Squad consegue que parecer perfeito, dei por mim a abanar a cabeça ao som de Paranoid de Black Sabbath, como tinha vibrado com Bohemian Rhapsody dos Queen no trailer. A música não consegue salvar o filme das suas falhas, mas acompanha-nos ao seu destino, com escolhas mais bem elaboradas do que outras, que já lhe valeram o top de vendas.

Suicide Squad, podia ter sido muito melhor, mas perdeu-se no caminho. Tal como Batman vs Superman, talvez um corte maior do filme lhe atribua algumas qualidade, mas a inclusão de cenas com Leto não ajudará em absolutamente nada. Resta afirmar, no entanto, que embora os críticos não tenham tido misericórdia, o filme continua a ser uma experiência de entretenimento, que talvez não valha o bilhete mais caro, mas que será sem duvida, confortável numa sessão de cinema com amigos em casa ou, num formato menos dispendioso, numa sala mais próxima. Definitivamente, não é horrível, tem alguma capacidade para nos fazer rir das personalidades vincadas desta força especial improvável, mas Suicide Squad não ficará certamente em nenhum pedestal da DC, ou da prateleira lá de casa.

Picture15.5

Volto no próximo mês com mais cinema…