A Teoria de Tudo (Review)

Estamos perto da tão afamada Cerimónia de Óscares e por isso seria de esperar que trouxesse um dos nomeados para uma merecida análise. Já tive contacto com O Jogo das Imitações, Grand Budapest Hotel e Sniper Americano e posso dizer sem sombra de dúvida que este ano a corrida para as estatuetas douradas está renhida. Hoje trago no entanto o filme que estreou em salas portugueses a 29 de Janeiro, A Teoria de Tudo

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Titulo Original: The Theory of Everything

Ano: 2014

Realizador: James Marsh

Produção: Tim Bevan, Lisa Bruce, Eric Fellner, Anthony McCarten

Argumento: Anthony McCarten, Jane Hawking

Actores: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior

Musica: Jóhann Jóhannsson

Género: Biografia, Drama, Romance

Ficha técnica completa em:

http://www.imdb.com/title/tt2980516/

Quando falamos em Stephen Hawking, e claro se tivermos o mínimo conhecimento das figuras que marcam o nosso tempo ao nível da ciência, facilmente identificamos o famoso teórico incapacitado a nível físico e sentado numa cadeira de rodas com a capacidade de comunicar restringida a uma voz robótica muito semelhante ao famoso Microsoft Sam, que se recusa categoricamente a modificar para versões actualizadas alegando que ninguém muda de voz. Acontece que Hawking sofre da mesma doença que motivou no ano de 2014 um grupo elevado de pessoas a gastar água potável em quantidades exorbitantes, a Esclerose Lateral Amiotrófica, doença regenerativa e progressiva  que afecta a locomoção e acaba por levar à morte devido à paralisação de músculos importantes para sobrevivência dos doentes. Hawking é um exemplo de inteligência e sobrevivência a uma doença que dá aos seus portadores menos de uma década de vida.

O filme cobre a vida do teórico desde a sua passagem pela Universidade de Cambridge, nos anos 60, até aos dias de hoje. A história, contada através das memorias da ex-mulher Jane Hawking no livro Travelling to Infinity: My Life with Stephen, conta o começo da sua relação com o cientista, as dificuldades passadas pelo casal no seu combate à doença e o seu subsequente afastamento. Embora seja uma história de amor forte tem um “felizes para sempre” que se desenrola de maneira desligada à de um conto de fadas mas com a sua magia própria. Não é também uma daquelas histórias de amor de adolescentes, centra-se em algo mais forte um amor sem barreiras e uma dedicação exemplar que embora com um fim permanece por outros meios através da amizade.

A Teoria de Tudo pode retratar um homem da ciência mas não se debruça demasiado sobre isso, e quando o faz usa de forma simples e descontraída não sendo completamente essencial para o desenvolvimento, pequenas animações e analogias explicam as teorias por detrás da genialidade de Hawking. É na representação que o filme se destaca, com o nomeado e possível vencedor da categoria de “Melhor Actor Principal” Eddie Redmayne. Nota-se um trabalho notável de pesquisa sobre a doença e sobre Hawking que transparece no produto final,  digno da nomeação. Será um trabalho difícil simular os estados progressivos de uma doença sem nunca a ter vivido e esse trabalho é de louvar, mas o que é certo é que o autor o faz com uma perfeição tão assinalável que nos faz parecer que estarmos de facto a ver o célebre cientista. O papel de Felicity Jones, também nomeada mas para “Melhor Actriz Principal”, mostra o outro lado, o lado do cuidador da pessoa que num grande grau de sacrifício cuida de um homem debilitado abdicando dos seus sonhos e que por vezes enfrenta o escárnio da sociedade e do meio envolvente.

O filme está ainda nomeado para “Melhor Argumento”, o que me aprece a mim merecido embora as passagens de tempo no filme nem sempre estejam explicitas a não ser pela evolução das personagens ou o surgimento de mais um filho do casal ou a caracterização. Para o fim do filme esta passagem começa a deteriorar-se e só com pequenos traços conseguimos eventualmente traçar a passagem dos anos, não se torna um problema de maior pode apenas ser uma direcção própria do argumento ou de factores como direcção ou apresentação.

O filme está ainda nomeado para “Melhor Banda Sonora”. Igualmente justo, com algumas peças que de facto ficam no ouvido e que se adequam à natureza do filme. nada de muito substancial mas de incrível composição.

Em suma, A Teoria de Tudo tem realmente tudo o que a academia parece procurar e é sem duvida um filme de Óscares com drama o suficiente para impressionar e representações muito bem conseguidas. Sendo um filme que se dispõe a ser completo mostra uma dose de “tudo” mesmo quando poderia ser sobre “nada”, e realmente muitas historias de amor acabam por não ter a substância que este apresenta. Certamente levará pelo menos uma estatueta talvez mais. Mas mesmo na eventualidade de não ganhar nada é inegável o poder das representações de ambos os actores principais.

Clube de Dallas e 12 Anos Escravo8.5

Volto para o próximo mês com mais cinema…

Artigo de Luís Antunes