Um acordo, um ponto de partida

O acordo assinado na passada semana entre o governo grego e a Comissão Europeia salda-se como o ponto de partida para negociações entre duas “pessoas de bem”, como qualquer Estado deve ser considerado. Por isso, sejamos de esquerda ou de direita, nunca deveremos entender o governo grego como sendo “uma cambada de caloteiros”, pelo menos não nesta fase inicial do seu mandato.

É costume oferecer-se 100 dias de prazo aos governos recém-empossados, por forma a “assentarem arraiais” na sua função. Lidar com uma dívida colossal como a que o Syriza herda dos socialistas do PASOK e dos conservadores da Nova Democracia não é tarefa fácil.

Também não será fácil para o governo grego tentar negociar com os restantes 18 governos da zona euro, com sensibilidades políticas bastante distantes da esquerda helénica, estando ainda assim mais próximo da esquerda italiana de Matteo Renzi e do socialismo humanista do francês François Hollande, não esquecendo a socialdemocracia austríaca. Para Jean-Claude Juncker, o acordo assinado entre a Comissão Europeia e o governo grego é o maior feito alcançado por si desde que entrou em funções, em meados de Novembro do ano passado.

Não pela amplitude do conteúdo, mas sim pelo simbolismo inerente. É que garantir princípios de negociação com a Grécia não é fácil, pois o Syriza tem uma base de apoio popular muito forte, e o governo de Tsipras e Varoufakis tem demonstrado aos media não querer aceitar mais austeridade.

Por tais razões, Juncker é o “homem do momento”, pois consegue “manter a Grécia sentada à mesa das negociações”. O caminho, a meu ver, deverá ser o de desbravar terreno e trabalhar muito em pontos essenciais de convergência.

Em política, e a um alto nível como o da política europeia, há que garantir princípios muito gerais de concordância entre as partes, para assim se prosseguir para uma fase em que se dá entrada a cedências de parte a parte. É disso que é feita a arte de negociar, a capacidade de estreitar laços e estabelecer pontes de diálogo, mesmo nas piores condições existentes.

Porque a nossa União Europeia vale de facto a pena.