Uma Viagem ao Mundo dos Jogos Olímpicos

Citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto e mais forte). É este o lema daquela que será uma das tradições mais antigas do mundo. Numa altura em que os olhos estão postos no outro lado do Atlântico, convido-o a embarcar nesta viagem pelo mundo dos Jogos Olímpicos. Símbolos, curiosidades, o que se passou na edição do ano em que eu vim ao mundo, como tudo começou, e o que fica dos primórdios, para si, nesta crónica.

 

Origens

Diz a história que tudo começou na Grécia Antiga, muito antes de Cristo, quando os gregos iniciaram o culto ao corpo e homenagens ao deus supremo da mitologia grega, Zeus. Nessa época, o então chamado Festival Olímpico, fazia parte dos quatro grandes festivais religiosos por eles celebrados. O palco das festividades era a cidade de Olímpia e apesar de não haver conhecimento da data oficial da primeira edição, sabe-se que a partir de 776 antes de Cristo, passou a ser feito um registo dos vencedores, tendo ficado a data da fundação dos jogos.

Como recompensa, eram oferecidas coroas de louro, o que à partida para nós não fará muito sentido, mas para os gregos, o louro era considerada uma planta sagrada. Já por esta altura, tudo se realizava de quatro em quatro anos.  A tradição, ainda hoje se mantém, embora com alguns anos de pausa provocados essencialmente por razões políticas, como vai poder testemunhar.

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Curiosidades

Vamos ao momento “sabia que?” desta crónica.

Sabia que nos primórdios, a participação feminina não era permitida? E que os atletas competiam nus? Sim, sim, completamente nus e houve uma altura em que até os treinadores eram obrigados à nudez. Na altura para eles fazia sentido, afinal eram atividades de culto ao corpo. E nós o que achamos disso? Rimos, não dá para evitar. É claro que muita coisa se alterou e os Jogos Olímpicos nos moldes em que os conhecemos, só passaram a existir no fim do século XIX. Quero-lhe contar também que os Jogos Olímpicos de 1936, acolhidos por Berlim, foram os primeiros a ser transmitidos na televisão, mas apenas para o público local.

Nestas curiosidades entram também questões políticas e que nos levam a falar de alguns anos de pausa, como por exemplo 1916, 1940 e 1944. E o que têm em comum estas três datas? Não precisamos de pensar muito para nos lembrarmos que naqueles anos o mundo estava em guerra, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, respetivamente.

Mas a chama dos Jogos Olímpicos nunca se apagou e apesar de algumas barreiras, ainda hoje os vivemos com intensidade. Sabia que a cidade que acolhe o evento é escolhida sete anos antes? A seleção é feita com rigor e decorre em duas fases, que duram dois anos no total. O processo é longo, porque tem de passar primeiro pelos Comités Olímpicos de cada país, que embora possam ter mais do que uma cidade na corrida, apenas podem apresentar uma ao Comité Olímpico Internacional, que terá a palavra final.

Importante ainda salientar uma curiosidade que nos transporta para a edição deste ano, que mostra como os Jogos Olímpicos são um espelho do mundo e da realidade. É a primeira vez na história que existe uma equipa composta exclusivamente por refugiados. A delegação está representada por 10 atletas que vão prestar provas no Atletismo, Natação e Judo. São cinco corredores do Sudão, dois judocas congoleses e dois nadadores sírios. Com esta novidade, o Comité Olímpico Internacional espera um reconhecimento da dimensão mundial da crise dos refugiados.

 

Símbolos

Desde a bandeira, ao lema, muitas são as marcas que se eternizaram. Comecemos pela chama olímpica, que é o símbolo mais antigo, uma vez que remonta à Grécia Antiga. A chama sagrada era mantida acesa até ao final dos jogos para marcar a paz. Seguem-se o lema e a bandeira, ambos obras de Pierre de Coubertin. Citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto e mais forte) foi proposto por Pierre em 1894, mas só foi oficialmente reconhecido em 1924, em Paris.

Por sua vez, a bandeira foi criada em 1913, tendo sido apresentada no ano seguinte, no Congresso Olímpico que ocorreu em Paris. Sobre fundo branco, os cinco anéis entrelaçados pretendem simbolizar a união de povos e raças, sendo cada cor um continente. O Azul representa a Europa, o Amarelo a Ásia, o Preto a África, o Verde Oceânia e o Vermelho a América.

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A Pegada Portuguesa

Também nós, povo conquistador, fazemos parte desta história e tendo nós um papel tão importante na história do Brasil, tivemos um merecido destaque na cerimónia de abertura deste ano no Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro. Sabe quantas medalhas de ouro já conquistámos? E em que ano tivemos a nossa primeira participação? Eu conto-lhe tudo…

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Foi nas Olimpíadas de Estocolmo, com meia dúzia de descobridores, que se fez a primeira participação de Portugal, corria o ano de 1912. A nossa estreia ficou marcada pela ausência de medalhas, mas mais triste do que isso, foi a perda de um atleta em plena competição.

Filipe Lázaro, carpinteiro de profissão, era considerado um dos principais candidatos à vitória olímpica. O termómetro marcava 32 graus de temperatura, Lázaro completava o quilómetro 29 da maratona quando perdeu os sentidos. Foi transportado para o hospital onde acabou por não resistir. A causa apontada para a morte foi desidratação extrema.

Desde então já conquistámos 23 medalhas: quatro de ouro, oito de prata e onze de bronze.

As conquistas de ouro devem-se a dois homens e duas mulheres; Carlos Lopes (maratona – 1984), Rosa Mota (maratona – 1988), Fernanda Ribeiro (10 mil metros – 1996) e Nelson Évora (triplo salto – 2008). Este ano a nossa voz faz-se ouvir com mais força e garra, porque temos a segunda maior comitiva portuguesa de sempre. Ao todo, 92 atletas lutam para levantar o esplendor de Portugal. Ainda assim não batemos a participação nos Jogos de Atlanta, aos quais rumaram 107 atletas.

 

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Como o leitor pode imaginar, toda esta crónica é fruto de algumas pesquisas e como tal, não pude deixar de matar a curiosidade sobre a edição do meu ano de nascimento, 1992. Que belo ano (sou suspeita por dizer isto…), ainda que Portugal não tenha conseguido nenhuma medalha. Foi mesmo aqui ao lado, nomeadamente Barcelona, o palco da edição número 25 dos Jogos Olímpicos. Ao todo, entre os dias 25 de Julho e 9 de Agosto, 169 nações, 9367 atletas, 2708 mulheres e 6659 homens competiram.

 

A edição de 1992 ficou marcada pela estreia das modalidades de Basebol e Badmington e pelo regresso de algumas delegações: Cuba e Coreia do Norte voltam a participar após 12 anos de afastamento; volta também África do Sul, que esteve privada durante 32 anos por causa do regime do Apartheid; a Alemanha, competiu como uma só, algo que não acontecia desde 1956 e 1964.

Um dos momentos marcantes dos Jogos Olímpicos de 1992, foi o dueto de Freddie Mercury com Montserrat Caballé, na cerimónia de abertura, que viria a ser a última atuação pública do ex-vocalista dos emblemáticos Queen.

 

A Próxima EdiçãoTokyo-2020

Já se fala nos próximos Jogos Olímpicos, os de 2020. Até ao momento sabemos que todos os caminhos vão parar ao Japão, nomeadamente Tóquio, a capital. Mas mais do que a cidade que os vai receber, vão estar novas modalidades em competição: Surf, Skate, Escalada e Basebol/Softbol. Mas como ainda estamos longe, vivamos os jogos do presente.

Que saibamos levar mais além a força da chama olímpica e os princípios que nos ensina: a paz, a amizade e o bom relacionamento entre os povos.

Voltamos a encontrar-nos em breve, por entre linhas e sorrisos.

Margarida Gaspar